Entre o papel e o digital

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 02/11/2025
Horário 04:30

Há empresas que ainda vivem presas ao universo dos controles manuais — cadernos, papéis e planilhas sem qualquer automação, que se multiplicam em gavetas e computadores, tentando dar conta de acompanhar entradas, saídas, clientes, fornecedores e resultados. Outras, num movimento oposto, apostam alto na informatização, adotando sistemas complexos de ERP (Enterprise Resource Planning), muitas vezes sofisticados demais para sua realidade. Curiosamente, os dois extremos revelam o mesmo problema: deficiência de gestão.
A empresa que mantém processos manuais acredita que “funciona assim há anos” e que informatizar seria caro ou desnecessário. No entanto, o controle manual — inclusive o feito em planilhas básicas, sem fórmulas, vínculos automáticos ou integração de dados — é vulnerável a erros, retrabalhos e informações desatualizadas. Quando o gestor precisa tomar decisões rápidas, o dado simplesmente não está disponível, ou está errado. O resultado é uma falsa sensação de controle, que esconde desperdícios, perdas e oportunidades não aproveitadas.
Por outro lado, há empresas que deram o salto tecnológico, mas sem dar o passo mais importante: treinar pessoas e ajustar processos. Instalam um sistema completo de ERP, que poderia integrar todas as áreas — compras, estoque, financeiro, vendas, produção —, mas acabam usando apenas uma fração de suas funcionalidades. O sistema vira um “cadastro caro”, onde se lançam notas e pagamentos, mas sem gerar relatórios de performance, sem acompanhamento de indicadores e sem cruzamento de informações. Ou seja, o investimento e recursos existem, mas o retorno não.
O ERP é uma ferramenta poderosa — mas continua sendo ferramenta. Sem cultura de gestão, sem processos claros e sem pessoas capacitadas, o sistema não entrega inteligência, apenas digitaliza o caos. E quando o caos é digital, ele se espalha com mais velocidade e impacto.
O equilíbrio está no meio do caminho. O controle manual e as planilhas rudimentares devem ser substituídos gradualmente por sistemas que reflitam a realidade da empresa, e a tecnologia deve ser vista como extensão da gestão, não como substituta dela. Treinar equipes, revisar processos e criar rotinas de acompanhamento de resultados são passos essenciais para que a informatização deixe de ser apenas um modismo e se torne um diferencial competitivo.
No fim, o que separa uma empresa desorganizada de uma empresa eficiente não é o tamanho do sistema que usa, mas a maturidade de quem o opera. Enquanto muitos ainda insistem em controles manuais ou planilhas sem automação, a boa gestão continua sendo, antes de tudo, uma questão de método, disciplina e conhecimento sobre finanças.
 

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