ENTREVISTA - Milton Carlos de Mello, Tupã (PTB)

PRUDENTE - JEAN RAMALHO

Data 29/12/2016
Horário 09:53
 

PREFEITO DE PRESIDENTE PRUDENTE

 

Uma Prefeitura deve ser administrada como se fosse uma empresa privada

 

Há cerca de 8 anos, ele era uma figura quase que desconhecida na sociedade ou no meio político de Presidente Prudente. Hoje, depois de dois mandatos como prefeito da maior cidade do oeste paulista e de eleger um sucessor, Milton Carlo de Mello, Tupã (PTB), diz que se sente satisfeito pelo trabalho realizado, apesar de reconhecer que deixará algumas pendências. Ele esteve nesta semana na Redação de O Imparciale falou sobre algumas das principais realizações ao longo de suas gestões, bem como dos desafios que a cidade deve atravessar durante o mandato de Nelson Roberto Bugalho (PTB).

Jornal O Imparcial Prefeito diz que sucessor terá de ter "mão de ferro" ao governar Prudente

 


O Imparcial - De forma geral, como o senhor avalia as suas gestões para Presidente Prudente?


Avalio de uma maneira muito positiva. Tirando alguns percalços, dos compromissos e as propostas que assumimos durante o primeiro mandato e depois na reeleição, cumprimos todos. Eram propostas audaciosas, mas feitas em cima de muito estudo, muito pés no chão. Propostas que nós conseguimos atingir com uma somatória de esforços. Com a ajuda do governo federal, do Estado, com a própria comunidade prudentina, com um comprometimento muito grande dos nossos secretários, funcionários. Então, vejo de maneira muito positiva, porque vemos algumas prefeituras, até do mesmo porte de Prudente, sofrendo muito por conta da crise econômica, enquanto que a Prefeitura de Prudente se manteve sólida.

 

Quais os maiores pontos positivos?

Você ser prefeito de Prudente é um desafio diário. Mas nós implantamos em Prudente uma coisa que vejo como crucial, pensando em nossa cidade, no país, vejo a educação como um desafio muito grande. Então, neste período, conseguimos executar 14 novas creches, além de deixarmos mais quatro em andamento, que vão ser entregues no ano que vem, novas escolas estaduais e, principalmente, um ensino de qualidade. Implantamos, através da Secretaria de Educação, um projeto muito audacioso, que é o Cidadescola, que representa uma oportunidade para nossas crianças se prepararem em período integral, em um contexto que engloba toda a comunidade, parceiros. A Prefeitura, sozinha, fica muito isolada, então, apresentamos à sociedade um trabalho diferenciado na educação.

Na saúde da mesma maneira, reestruturamos toda a estrutura física dos prédios da saúde, implementamos novas equipes de ESF (Estratégia Saúde da Família) de 11 para 14 equipes, praticamente todas em prédios públicos. Tivemos um desenvolvimento em todas as áreas da Prefeitura, na área de tecnologia, hoje, todo o sistema é interligado. Então, cada conquista é uma vitória, seja na área da educação, na saúde, na habitação entregamos quase 4 mil unidades a pessoas necessitadas. Você poder entregar uma chave de uma casa para uma pessoa que sempre pagou aluguel é algo diferente. Procuramos atuar não em focos isolados, mas dentro do contexto que apresentamos à população, procuramos atuar em todas as áreas.

 

O que faltou? Quais projetos o senhor tinha convicção que seriam concluídos, mas, por motivos diversos, não puderam ser terminados?

O único projeto que nós tínhamos uma proposta e não conseguimos, porque nós tivemos que optar para outra meta, tínhamos uma vontade muito grande de implantar uma nova rodoviária em Prudente. Tirar essa rodoviária do centro e levar para próximo da rodovia, mas ela teria um custo de aproximadamente R$ 11 milhões e a Prefeitura optou por outras coisas. Tentamos uma parceria público-privada, chegamos a elaborar um edital, mas nesta época, o país entrou em crise e chegamos à conclusão que não iríamos conseguir essa demanda, então, resolvemos optar por outras áreas.

 

Em entrevista no fim do primeiro mandato, o senhor afirmou que pretendia ampliar o Cidadescola, no entanto, viu a verba do projeto reduzida e teve de assumir as despesas. Por outro lado, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) tem avançado progressivamente na cidade, que ainda enfrenta o problema de déficit de vagas nas creches. Como o senhor avalia sua atuação na educação? É um alvo possível de ser alcançado?

A questão das creches é uma conta que nunca vai zerar. É utopia as pessoas falarem que vão conseguir zerar esse déficit. É um cálculo matemático, se temos uma média de 200 nascimentos por mês em Prudente, e demoramos em torno de oito meses para construir uma creche normalmente, ao final deste tempo teremos 1,6 mil crianças e essa creche vai atender 200 delas. Então, nós tentamos o que? Promover parcerias com a iniciativa privada e ainda assim não conseguimos muito êxito, pois a iniciativa privada não demonstrou interesse em trabalhar com essa faixa etária.

Diferente do Cidadescola, em que pudemos firmar convênios com os clubes, entidades que cederam seus espaços à Prefeitura em troca do IPTU . Isso nós conseguimos, tanto é que todos os clubes de Prudente cedem o espaço ao Projeto Cidadescola. Então, lógico que eu torço muito para que se consiga zerar, mas acho impossível.

 

No Esporte, as obras do Centro Olímpico ainda rastejam, ficando muito longe do propósito inicial que era sediar delegações dos Jogos Olímpicos. Por que não foi impossível entregar a obra no prazo previsto? Prudente deve ter aquela área de volta quando?

Conseguimos dar o andamento, mas não conseguimos entregá-la por causa do governo federal, que apresentou inúmeras inconsistências nos repasses. Até hoje, o governo federal continua repassando as verbas, mas fazem isso da maneira deles. Tínhamos um cronograma de 24 meses para execução, mas eles não têm essa demanda. Eles aprovaram através de uma emenda de bancada e continuam mandando o recurso, mas não no ritmo que queríamos, pois depende do orçamento do Ministério dos Esportes, que tem suas dificuldades. Chegamos até a fazer uma proposta à Caixa e com o Ministério dos Esportes, que a Prefeitura bancaria e terminaria a obra e depois ficasse recebendo os repasses proporcionais ao que foi executado, mas eles não aceitaram. Falaram que o sistema é diferente e que, se nós fizéssemos isso, deixaríamos de receber o recurso.

Mas, à medida que está vindo a verba está sendo executado, então, acredito que se continuar neste ritmo, se continuarem os repasses, esta primeira fase deve ser entregue até junho ou julho. Está na fase de calçamento, fechamento das piscinas, os vestiários estão praticamente prontos, então, a obra está andando. O que posso assegurar é que em nenhum momento a obra ficou paralisada por falta de repasse da contrapartida da Prefeitura. Cumprimos a nossa parte e, em alguns casos, até adiantamos a contrapartida para que as obras continuassem, e o Centro Olímpico é uma dessas obras. Então, hoje a Prefeitura não tem aporte mais lá dentro, tudo o que tem que ser feito depende de verba federal.

 

A licitação para melhorias do transporte coletivo foi interrompida, o que deixou a população à mercê das atuais empresas que prestam o serviço na cidade. Por que não foi possível dar uma solução ao transporte público de Prudente em 8 anos de mandato?

Mas quem travou a licitação do transporte coletivo foi o Tribunal de Contas , eu queria ter resolvido essa questão há muito tempo. Para lançarmos o edital, tivemos que elaborar o Plano de Mobilidade Urbana, então, viemos trabalhando neste sentido desde o primeiro mandato. Cumprimos tudo isso, inclusive com audiências pública, até lançarmos o edital que foi travado pelo Tribunal de Contas. Agora, estamos cumprindo o que foi determinado pela Corte para que se possa abrir uma nova licitação.

Sou totalmente favorável a uma nova licitação, pois o transporte coletivo de Prudente deixou muito a desejar, não está à altura da cidade. Mas essas quatro estações que estamos entregando na cidade fazem parte deste projeto, ou seja, estamos fazendo algo diferente na mobilidade, mas as empresas não acompanharam esse ritmo. Gostaria muito de ter viabilizado também este projeto, mas no setor existem muitas coisas que travam nosso trabalho, que não ocorre na iniciativa privada. Mas ao menos nós estamos preparando a cidade para que, quando ocorra a licitação, não tenhamos que demorar mais três anos para fazer as obras, pois elas já estão prontas e podem ser utilizadas.

 

O programa de recapeamento asfáltico talvez tenha sido o maior destaque na área de infraestrutura. O que o senhor tem a dizer a respeito?

Foi algo desafiador. Nunca deixamos, desde o primeiro dia que assumimos a Prefeitura de Prudente, de fazer recapeamento. Sabíamos que a estrutura, que a malha viária de Prudente precisava disso, então, desenvolvemos um cronograma para atender toda a cidade com o recapeamento, inclusive os distritos. E esse trabalho continua ainda hoje, mesmo depois de duas eleições. A Prudenco vai terminar o ano fazendo o recapeamento e hoje temos uma marca de praticamente 90% da cidade recapeada.

 

O município ainda tem verbas a receber do governo federal para investimentos na área de mobilidade urbana? Quais outros projetos de mobilidade urbana que ficarão para o Nelson Bugalho concluir?

Temos uma parcela do programa de mobilidade urbana a ser cumprida. Temos dois PACs em Prudente. O primeiro deles no valor de R$ 38 milhões, que está sendo executado. Faz parte deste PAC a duplicação da Estrada Raimundo Maiolini, ciclovias, as estações de transporte coletivo. O outro PAC, no valor de R$ 5 milhões, estamos fazendo toda a ciclovia que vai interligar a cidade inteira. Então, temos hoje dois PACs em execução que vão passar para o próximo prefeito concluir.

 

Na saúde, quais as dificuldades que o senhor pode listar neste setor e os pontos positivos avaliados ao longo de sua gestão?

Primeiro, quando assumimos a Prefeitura, as pessoas não tinham um lugar para sentar nos prédios da saúde. Se eles quisessem tomar água tinham de tomar da torneira. Os funcionários se sentiam em áreas totalmente insalubres, com prédios deteriorados. Então, procuramos estruturar esses prédios, com reformas e construções. Paralelamente a isso, procuramos informatizar todo o sistema, com o prontuário eletrônico. Outro ponto importante foi a humanização do atendimento às pessoas. Fazer com que usuário do sistema público de saúde se sinta acolhido nas unidades. Investimos também nos médicos, aumentamos os números de enfermeiros e de unidades de ESFs. Temos uma UPA em funcionamento e outra em fase de finalização.

Então, uma coisa que tive dificuldade para entender no começo é com relação ao que é de responsabilidade do município, do Estado e da União. Vou dar um exemplo do que está acontecendo hoje em Prudente. Com o fechamento da urgência do HR , nós temos um sistema de saúde que é referência para a Região Administrativa, então detectamos e por isso vamos iniciar um recadastramento dos usuários de saúde em Prudente, uma média de 30 a 40 consultas por dia de moradores de outras cidades. Ou seja, começou a existir uma sobrecarga nos serviço e quem está sendo prejudicado? O prudentino! Somos a maior cidade da região, então é natural que as pessoas dos municípios vizinhos recorram a nós, mas não podemos absorver essa demanda.

 

O que o senhor tem a dizer sobre a mais recente crise relacional enfrentada pelo poder público, uma vez que houve protestos de aposentados, pensionistas e servidores de nível superior, que tiveram tíquetes e 65% do adicional cortados?

Eu me sinto frustrado. Fui prefeito durante dois mandatos, ou seja, oito anos. Em sete anos e dez meses eu paguei, em dia. Então, vamos ser claros. Você acha que, politicamente, eu não queria pagar os dois últimos meses? Sendo que nós temos recurso? Então, se pagamos durante sete anos e dez meses, porque eu haveria de deixar de pagar dois meses, sendo que tenho recurso para isso? Então, me sinto frustrado, principalmente também por não estar autorizado a pagar o tíquete aos aposentados, que são os grandes prejudicados. Pois são 1,2 mil e, deste total, 800 foram aposentados antigamente, então, são aqueles que recebem os menores salários da Prefeitura. Ou seja, praticamente ele vive do tíquete, então, foi uma frustração muito grande. Acho, em minha opinião como cidadão, que não era uma coisa justa, mas a Justiça determinou e eu tenho que cumprir.

Com relação aos 65%, sempre falei, desde que foi suspenso, que hoje existem dois estudos dentro da Prefeitura. O primeiro prevê a incorporação dos 65% à folha salarial, que geraria um impacto no orçamento, e outro que não trata dos 65%, mas de 50%, que seria menos pior e não causaria impacto à folha. Mas, agora, a decisão será do Nelson Bugalho.

 

Qual avaliação do serviço de coleta seletiva em Prudente? E o mais recente anúncio sobre a área do lixão, o que representa para sua gestão?

Vejo como excelente, nós resolvemos a questão. Queiram ou não, se pegarmos a questão do lixo, fizemos um TAC com o Ministério Público e com a Cetesb e estamos cumprindo o acordado, exatamente o que foi determinado. Podemos fazer a coleta, demos uma atenção especial à coleta seletiva, à reciclagem, depois o material inerte é depositado lá e recebe todo o tratamento necessário, assim como ficou acertado. E podemos continuar com esse trabalho até pelo menos um ano para frente. Se eu posso fazer isso, por que eu levaria esse material inerte que sobra para Quatá, para pagar R$ 180 a tonelada? Quem vai pagar isso? Por que eu vou ter uma despesa de R$ 2 milhões a mais se eu posso deixar aqui?

 

Como o senhor entregará a Prefeitura para o seu sucessor?

A grande lição que levo é que uma Prefeitura deve ser administrada como se fosse uma empresa privada, não se pode brincar de ser prefeito e querer agradar a gregos e troianos, não tem como. Então, entregarei a Prefeitura com dinheiro em caixa e todos os compromissos quitados, não só da Prefeitura como da Prudenco. Fornecedores em ordem, salários e 13º em dia, e dinheiro em caixa.

 

O que pretende fazer quando deixar o cargo? Tem aspirações políticas maiores?

Trabalhar! Sou engenheiro, então, espero voltar a exercer minha profissão. Quem foi duas vezes prefeito de Prudente já recebeu a maior honraria que poderia ter. Tudo o que vier a acontecer na minha vida, politicamente, se tiver que acontecer, não vou forçar nada, mas politicamente, sou um homem satisfeito. Fui prefeito por duas vezes em uma cidade onde muita gente não conseguiu, então, sou muito grato a Deus por isso. Não vou deixar de gostar de política, só que hoje, pra você fazer política em nosso país, você tem que pensar muito. Fico muito preocupado de chegar um dia e ninguém mais querer ser candidato.

 

Pretende voltar a se candidatar a prefeito?

Não, vamos deixar as coisas acontecerem. É o que eu falo, eu tive a oportunidade e, durante oito anos, fiz o meu trabalho. Agora, vamos dar oportunidade a outras pessoas trabalharem, mostrarem serviço, então, acho que não posso pensar nesta possibilidade agora. Tudo tem sua hora, e minha hora chegou.

 

Qual o prognóstico o senhor faz do mandato de Nelson Bugalho?

Eu acho que ele vai ter que ter mão de ferro. Vai ter que tentar captar muito recurso dos governos estadual e federal para poder dar uma folga ao caixa da Prefeitura. E trabalhar muito, com uma equipe boa. Eu posso afirmar que um prefeito tem que ter capacidade e vontade de trabalhar, mas também tem que ter uma equipe boa e comprometida, caso contrário, nada dará certo. Então, principalmente, ele não pode achar que consegue tocar uma Prefeitura sozinho, você precisa de toda a comunidade te apoiando.

 

Como você vê Prudente antes e depois da gestão Tupã?

Resumo em uma palavra: união. Com raríssimas exceções, de pessoas que não quiseram o bem de Prudente, mas de um modo geral, vejo uma cidade mais unida hoje.

 

 
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