O auditório do Hospital de Esperança recebeu ontem à tarde, durante sua Sipat (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho), uma palestra impactante com o especialista Antonio Tadeu Costa. Com vasta experiência, incluindo a autoria do livro "Cipa: Organização, Funcionamento e Atribuições" e a realização de treinamentos em todo o país, Costa apresentou dados alarmantes, reflexões críticas e orientações essenciais sobre segurança e saúde no trabalho, com foco especial no setor de saúde.
Antonio Tadeu Costa iniciou sua explanação com um dado contundente: os estabelecimentos de saúde ocupam o indesejável primeiro lugar no ranking de acidentes de trabalho no Brasil, ultrapassando setores tradicionalmente perigosos como a construção civil. "De 2018 a 2022, apenas com material biológico, foram 329.516 vítimas de acidente de trabalho. Arredondando, são 330 mil vítimas", alertou. O especialista destacou que mais de 50% dos infectados pertencem à área de enfermagem, principalmente auxiliares e técnicos. "Os números são assustadores. E por que estamos aqui? Porque temos uma Cipa", questionou, enfatizando o papel crucial da comissão na prevenção.
“A evolução da cipa: agora
também no combate ao assédio”
Costa explicou uma significativa mudança na legislação. Desde 21 de setembro de 2022, a Cipa passou a se chamar Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio. "A sigla não mudou, continua Cipa, mas foi acrescentada a palavra 'assédio'", esclareceu, referindo-se à Lei 14.457, conhecida como "Emprega Mais Mulheres". O motivo da mudança é o aumento vertiginoso de afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho. "No ano passado, tivemos um aumento de 62% nos afastamentos previdenciários por transtornos mentais. Muitos desses afastamentos são relacionados ao trabalho", afirmou, sublinhando que a Cipa agora tem a missão de prevenir também as diversas formas de violência e assédio no ambiente laboral.
“Sipat: mais que uma obrigação, uma necessidade”
O especialista relembrou a origem da Sipat, criada em 1953, oito anos após a Cipa. Ele definiu seu objetivo central como "despertar o interesse dos trabalhadores para a prevenção, de forma que eles passem a adotar um comportamento preventivo durante o trabalho". Costa enfatizou a importância da participação maciça dos colaboradores. "É um momento ímpar. Diga para o pessoal que foi embora: amanhã não falte, venha! Incentive a participação. Repitam palestras para que todos possam ter esse interesse despertado".
“A cultura da prevenção precisa ser incorporada”
Usando uma analogia poderosa com as infrações de trânsito mais comuns – uso de celular ao volante, falta de cinto de segurança e excesso de velocidade –, Costa questionou se o conhecimento teórico se traduz em prática. "Ele recebeu a CNH, aprendeu? Não. Ele não incorporou. E se eu faço isso no trânsito, imagine no local de trabalho". A reflexão central foi que a prevenção eficaz só ocorre quando o indivíduo internaliza a importância das normas. "Não basta participar de uma palestra. As atitudes que eu tomo com relação à prevenção é aquilo que eu aprendi, que eu incorporei, que eu entendi a importância".
“Estatísticas que assustam”
O palestrante apresentou números gerais sobre acidentes de trabalho no Brasil, referentes ao ano passado: 742 mil acidentes, quase 3 mil óbitos e 15 mil inválidos permanentes. "Em dez anos, nós matamos 30 mil. Quando vamos parar com isso?", indagou. Costa também fez um alerta sobre a aposentadoria, direcionado ao público jovem. "Os que estão aqui vão receber salário mínimo quando se aposentarem. Então, se prepare. (...) Enquanto é jovem, faça uma previdência privada. Você consegue sobreviver hoje com um salário mínimo?".
“A prevenção começa em casa”
Para ilustrar que a cultura de prevenção deve ser um valor de vida, e não apenas profissional, Costa citou exemplos domésticos. Ele abordou desde a instalação segura de chuveiros elétricos (com fio terra) até o armazenamento correto do botijão de gás (em local ventilado, com mangueira de no máximo 1,5 metro e com registro e mangueira trocados a cada cinco anos). "Segurança não é só no trabalho, é com qualquer meio ambiente que eu me relaciono", concluiu, defendendo que a verdadeira prevenção é um hábito que deve permear todas as esferas da vida.