Estudo constata pressão sonora acima do permitido em escolas de Prudente

Crianças sentadas nas primeiras carteiras recebem de 97% a 100% da fala enquanto a das últimas só absorvem 55% da energia da voz do educador

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 02/07/2019
Horário 04:00
Divulgação - Estudo de Fonoaudiologia da Unoeste revela que cenário pode comprometer aprendizagem
Divulgação - Estudo de Fonoaudiologia da Unoeste revela que cenário pode comprometer aprendizagem

Um estudo revelou que as salas de aula de escolas públicas e particulares do ensino fundamental em Presidente Prudente encontram-se com valores de pressão sonora acima do limite estipulado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), gerando ruído competitivo que dificulta a aprendizagem dos alunos. Conforme mostra a pesquisa, a voz e a distância do professor interferem também na inteligibilidade da fala. Desta forma, o discurso perde 45% de sua energia até atingir o fundo da sala de aula. As crianças sentadas nas primeiras carteiras recebem por volta de 97% a 100% da fala. Já as que estão sentadas na terceira carteira, somente 69% desta energia e, nas últimas carteiras, chegam 55%. O docente, por sua vez, sente necessidade de aumentar a intensidade vocal, favorecendo a reverberação, interferindo na atenção e compreensão da fala, podendo haver comprometimento da aprendizagem.

O estudo faz parte de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Fonoaudiologia da Unoeste e mostra também que ao se comparar os valores mínimos, médios e máximos entre escolas públicas e privadas durante as atividades escolares, os valores das instituições de ensino público foram maiores que os das unidades de ensino particular. A maioria dos valores foi elevada e revelam ambientes com som competitivo para a fala do professor, aumento de pressão sonora com relação a ventiladores e o nível de voz dos estudantes. Além de ser insalubre para a audição, pode haver prejuízo também para a aprendizagem e a voz do docente, que normalmente ministra suas aulas sem o uso de microfones.

No estudo, as duas unidades escolares eram equiparadas com o mesmo número de alunos, de professores, período de aula e recorte na mesma faixa etária de 8 a 11 anos.  Conforme a orientadora e coordenadora da graduação, doutora Maria Cristina Alves Corazza, o objetivo principal do estudo foi compreender a realidade de ruídos nas escolas com vistas a auxiliar na implementação de medidas de melhorias na educação e aprendizagem.

Segundo a orientadora, através das normas da ABNT, compreende-se que em um ambiente interno o nível pressão sonora ou ruído deve estar por volta de 35 decibéis e, se estiver em atividade, até 40. Nesse sentido, todas as medições tanto em escolas públicas, quanto em privadas estiveram acima dos valores recomendados. Para tanto, considera que a escola pública se encontrava em uma avenida e uma via de condução. Sendo assim, há muitos veículos em tráfego. As janelas das salas se encontravam em direção às ruas, expondo a todo nível de pressão sonora externa. Outro ponto importante é que estas salas possuíam ventiladores “extremamente ruidosos”, que quando ligados, era impossível compreender a fala do professor. Em contrapartida, a escola particular encontra-se em um bairro mais silencioso, com vias locais e as janelas das salas estão viradas para dentro da escola, além de serem climatizadas com ar condicionado do tipo split, pouco ruidosos, explica Corazza.

Controle da voz

De acordo com o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Presidente Prudente e Região, Antônio Batista Grosso, atualmente, é proposto equipar as escolas com tecnologias mais avançadas, como por exemplo, o uso do aparelho de ar-condicionado mais silencioso. Outro fator importante é um controle mais “rígido” e educacional dos alunos dentro da sala de aula, de forma educá-los para respeitar o ambiente e o convívio com os demais alunos e professores. “É função da administração das escolas manter uma disciplina normal do comportamento, do ruído e do som dentro das salas de aula. Por isso, nas escolas particulares a quantidade de alunos nas salas é sempre dentro do limite”.A reportagem solicitou posicionamento da Seduc (Secretaria Municipal de Educação), no que diz respeito aos resultados do referido estudo, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.

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ADEQUAÇÕES NECESSÁRIAS

Unidades carecem de ambientação do som

WEVERSON NASCIMENTO
Da Redação

O trabalho intitulado “Análise do nível de pressão sonora ambiental em salas de aulas do ensino fundamental I em escolas pública e privada” é fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso de Fonoaudiologia da aluna Beatriz Goulart Caetano, orientado pela professora doutora Maria Cristina Alves Corazza, na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). De acordo com a conclusão do estudo, os projetos arquitetônicos de edifícios e salas de aulas devem ser planejados com o respeito às normas para ambientes destinados à aprendizagem, além de medidas educativas para sensibilização da população sobre o assunto também são importantes neste sentido.

De acordo com a orientadora, isto significa a necessidade de orientação na hora de fazer o planejamento dessas salas de aulas, pois devem estar em local arquitetonicamente disposto de forma observar se será voltada para áreas externas ou ambientes que possam interferir internamente no local. Para tanto, acrescenta que as unidades já construídas o recomendado é a colocação de mecanismos de absorção de som como paredes ou cortinas, vistoriadas em aparelhos de ar-condicionado e ventiladores antigos, ou seja, algumas medidas que auxiliam e melhoram a acústica.

A professora revela que nas escolas analisadas houve orientação sobre os efeitos do ruído na audição, na saúde geral e no aprendizado das crianças, além de ter sido discutida a importância de projetos arquitetônicos antes da construção do ambiente escolar e de medidas que melhoram a acústica. Ainda foi comentado sobre a climatização, contra o uso de ventiladores ruidosos e a relevância da disponibilização de microfones e caixas de som para uso do professor.

Na prática

A professora Alessandra Setuval, que atua há 19 anos no ensino, considera como normal ou comum o barulho escolar. “Mesmo assim trabalho a questão do respeito ao silêncio para que o aluno possa aprender ouvir e se concentrar, porque temos aqueles que precisam de mais silêncio para a produção”, destaca a professora, dizendo que utiliza de estratégicas básicas para manter a sala tranquila e concentrada, como falar um de casa vez, respirar quando o outro fala e conversar com tom de voz mais baixo e calmo.

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