Estudo pretende indicar modelo para replicar na agropecuária

Para isso, cientistas investigam interação lavoura-pecuária de uma prática bem-sucedida em solo arenoso

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 09/04/2022
Horário 10:18
Foto: Cedida
Coleta de amostras de solo e tricheira aberta na fazenda Ybyete Porã, em Rancharia
Coleta de amostras de solo e tricheira aberta na fazenda Ybyete Porã, em Rancharia

O sistema ILP (Integração Lavoura-Pecuária) tem dado tão certo na fazenda Ybyete Porã, em Rancharia, no oeste paulista, que nova pesquisa científica nessa propriedade, considerada como unidade de referência tecnológica, busca compreender mais a fundo os benefícios alcançados, visando utilizar os dados a serem obtidos para replicar em outras propriedades. O estudo em andamento envolve pesquisadores da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e de três unidades da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com o aporte da Fundação Agrissus – Agricultura Sustentável
Esta segunda semana de abril foi de trabalho de campo na fazenda do agropecuarista Edinaldo Mathias, que atua juntamente com seu filho Leandro. Houve a coleta de amostras para a pesquisa “Qualidade e Intensificação Sustentável em Solos do Oeste Paulista”, as quais passarão por análises químicas, físicas e biológicas. A problematização está voltada para saber quais são os reais fatores e como interferem na alta produtividade, a exemplo de produzir até 50% a mais de milho ou soja em relação à média regional e em comparação com sistemas convencionais, mesmo em períodos de déficit hídrico (pouco ou com falta de chuva). 

Círculo virtuoso

A produção pecuária também tem apresentado resultados significativos, com o abate de bovino cada vez mais precoce. Em todo o processo os ganhos são surpreendentes e comprometidos com a sustentabilidade, como ocorre com o plantio direto na rotação e sucessão de pastagem e grãos, o que mantém a cobertura permanente do solo e a conservação da água. Condições que resultam em vários benefícios, tais como: menor custo, maior ganho, proteção ambiental a partir do solo preservado, retenção de umidade no solo e melhora dos reservatórios de geração de energia.
O estudo quer entender em detalhes os procedimentos geradores dessa maior produtividade e se está ocorrendo sequestro de carbono; algo que é mais difícil em solo arenoso, mas que em outros solos é potencializado pelo plantio direto associado à rotação de culturas, especialmente pelas raízes das gramíneas (pastagem) na conservação de nutrientes, evitando que sejam perdidos por erosão ou lixiviação. Proteção que contribui para reduzir a dependência de fertilizantes e para agregar valor, já que existem frigoríficos que pagam mais pelo gado que tem origem em propriedades que promove o sequestro de carbono, ajudando a reduzir o efeito estufa.

Convivência e confiança

A relação dos pesquisadores no projeto vem da formação, de três dos quatro que estão à frente do estudo, na Universidade Federal de Viçosa (MG): o engenheiro florestal Dr. Marcelo Rodrigues Alves, que atua na Unoeste com as parcerias do Dr. Edemar Moro e Dr. Carlos Henrique dos Santos, e os engenheiros agrônomos Dr. Guilheme Kangussu Donagemma, da Empraba Solos do Rio de Janeiro, e o Dr. João Herbert Moreira Viana, da Empraba Milho e Sorgo em Sete Lagoas (MG). Pela Embrapa Solo em Campo Grande (MS) está o engenheiro agrônomo Dr. Ademir Fontana que é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) e trabalhou na Embrapa de lá. 
Eles contam que a reaproximação ocorreu a partir do 1º Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos (SBSA), realizado em 2014 na Unoeste e organizado pelo Gapagro (Grupo de Pesquisa Agropecuária do Oeste Paulista), com o apoio da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e outros parceiros. Agora recentemente, conseguiram auxílio da Agrissus para desenvolver em 2021 a pesquisa que atende o interesse da Embrapa em solos arenosos. Porém, devido à pandemia do coronavírus o prazo foi prorrogado por 12 meses, ficando então estabelecido o período de abril de 2022 a abril de 2023.

Grande apelo regional

Estão envolvidos na pesquisa em solos do oeste paulista alunos da graduação e da pós-graduação da Unoeste em Agronomia e Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Os da graduação em iniciação científica. Pelo doutorado em produção vegetal/ILPF (Integração Lavoura/Pecuária/Floresta) o engenheiro agrícola Marcello Augusto Dias da Cunha, formado pela Universidade Federal de Viçosa, orientado pelo Dr. Edemar, com a co-orientação do Dr. Marcelo. Este também orienta a engenheira ambiental e sanitarista no mestrado na área de ciências ambientais Julia Cardoso Silva, formada pela Unoeste, onde também fez especialização em gerenciamento ambiental. 
O estudo em questão pretende estabelecer referência para agropecuaristas brasileiros e estrangeiros, e tem grande apelo regional. No rol de maiores criadores de bovinos do estado de São Paulo, a região de Presidente Prudente é a que concentra o maior rebanho paulista: 1,9 milhão de cabeças. Como um dos fatores propícios para esta condição está a extensão territorial que abriga dois dentre os dez maiores municípios paulistas. Um deles é Rancharia que ocupa a 6ª posição com 1.587,5 km2, tendo à sua frente Iguape, Itapeva, Itapetininga, Eldorado e Capão Bonito.

Vastidão de solo arenoso

Outro grande município do oeste paulista é Teodoro Sampaio: o 8º com 1.555,8 km2, logo atrás de Barretos, mas que foi até 1990, quando das emancipações de Rosana e Euclides da Cunha Paulista, o maior do Estado, com 2.837,7 km2. Portanto, maior que Iguape que hoje está no topo com 1.978,7 km².  A vastidão de terras do oeste paulista é caracterizada pelo solo arenoso e tudo indica que os seus agropecuaristas muito poderão se beneficiar da nova pesquisa na fazenda Ybyete Porã, cuja referência em produção agropecuária tem em seu percurso de apoio de pesquisas científicas a contribuição da Unoeste juntamente com a Embrapa Cerrados e Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
O aporte da Agrissus avaliza a qualidade do projeto de pesquisa de caráter interinstitucional que pela Unoeste envolve programas que ofertam mestrado e doutorado: Agronomia e Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Criada há 21 anos pelo fundador do Grupo Manah, o engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso (1915-2021), a Agrissus financia projetos de ensino, pesquisa e extensão relacionados com a fertilidade do solo como base da agricultura sustentável. Os pesquisadores da Embrapa, antes de irem para Rancharia, passaram pela Unoeste e foram recebidos pelo pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão, Dr. Adilson Eduardo Guelfi.

 

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