Expedição ambiental em Prudente permeia galerias fluviais

Ambientalista diz que já detectou diversos problemas, como acúmulo de sedimentos, presença de esgoto não tratado e de gases tóxicos

PRUDENTE - JEAN RAMALHO

Data 08/01/2017
Horário 09:20
 

Enquanto a vida segue seu fluxo natural na superfície, no subterrâneo de Presidente Prudente os cursos d’água dos córregos canalizados encontram inúmeras dificuldades para cruzar o perímetro urbano da cidade. Pelo menos é o que aponta o ambientalista Edgard Puccinelli, que há cerca de seis meses está vasculhando as galerias fluviais do município por meio de uma expedição ambiental. O projeto consiste em um acompanhamento em toda a bacia hidrográfica de Prudente e já detectou diversos problemas, como o acúmulo de sedimentos, presença de esgoto não tratado e de gases tóxicos, incluindo a amônia.

Jornal O Imparcial Expedição começou em junho, na galeria do Córrego do Veado

Munido de roupa impermeável, botas, máscaras e equipamentos de escalada, ele entrou no subterrâneo de Prudente pela primeira vez em junho deste ano, na galeria do Córrego do Veado, abaixo do Parque do Povo. Desde então, o ambientalista passou também pelas galerias do Córrego do Limoeiro, que nasce em Álvares Machado e é responsável pelo manancial conhecido como Balneário da Amizade, Córrego do Gramado, que fica na base do lixão no distrito industrial, Saltinho e Colônia Mineira.

Em todos esses locais, Edgard Puccinelli relata que encontrou vários problemas ambientais, que colocam em risco não apenas a vida dos córregos, mas também da população acima dos mesmos. Isso porque, segundo ele, além da presença de gases tóxicos, acúmulo de sedimentos, que causam os temidos alagamentos, e da alta concentração de nitrito e nitrato, dois componentes que são provenientes da decomposição de matéria orgânica, os trechos também apresentam indícios de rompimento dos tubos e estruturas que sustentam as galerias, situação que, conforme ele, poderia resultar até mesmo em desabamentos.

"O cenário nessas galerias é preocupante, demonstra uma total falta de comprometimento dos órgãos públicos com a manutenção desses locais. Maquiam a superfície e abandonam o subterrâneo. Enquanto isso, os alagamentos seguem acontecendo, e um dos motivos é a grande quantidade de sedimentos, sem contar na iminente possibilidade de um desabamento, já que a deterioração da estrutura é evidente", relata o ambientalista.

 

Dossiê

Edgard Puccinelli calcula que já percorreu aproximadamente 30 quilômetros dentro das galerias da cidade. Para as pessoas acompanharem as denúncias, ele fez um canal no Youtube, que leva seu próprio nome. Mas a denúncia maior deve ser elencada no formato de dossiê, que ele pretende encaminhar ao Ministério do Meio Ambiente e à Secretaria do Estado do Meio Ambiente. "Não estou acusando ninguém, quero apenas que os responsáveis tomem providências a respeito desse assunto", argumenta.

Posteriormente, além do dossiê, as expedições devem ser transformadas em um estudo que vise à revitalização e à construção de parques lineares ao longo dos trajetos dos córregos, que hoje se encontram escondidos em meio às tubulações. "Nosso objetivo é fazer um levantamento ambiental, pois a água vem das nascentes limpa e é contaminada quando passa pela cidade. Então, se houver uma atenção maior e vontade política, podemos recuperar essas áreas e transformá-las em locais públicos", afirma Edgard.

 

Órgãos competentes

Em razão dos apontamentos do ambientalista, a reportagem entrou em contato com os órgãos que poderiam se posicionar acerca das galerias fluviais do município. A SMA (Secretaria do Meio Ambiente) de São Paulo e a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) informaram que "desconhecem o teor deste dossiê", portanto, "não há como se manifestar a respeito". Contudo, ressaltaram ainda "que a Cetesb fiscaliza constantemente, dentro de sua área de atuação, a proteção dos mananciais e também das APPs (áreas e preservação permanente), além de comprovar a qualidade das águas por análises laboratoriais e realizar o atendimento às reclamações da população, visando o cumprimento da legislação vigente".

Por sua vez, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informa que irá vistoriar os locais citados, porém, até o momento, a empresa não havia recebido reclamações referentes aos assuntos abordados pelo projeto. A Semea (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) de Prudente, por sua vez, não respondeu aos e-mails encaminhados pela reportagem.

 
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