Fábulas infantis

Raul Borges Guimarães

COLUNA - Raul Borges Guimarães

Data 26/05/2024
Horário 05:01

Grande parte da minha vida convivi com muitas crianças. Mesmo quando já me aproximava da juventude, ainda tinha irmãos mais novos que não entendiam por que não poderíamos continuar a brincar de faz de conta. Depois vieram as filhas e cinco netos com as perguntas e observações das mais diversas, encarando-as com um entusiasmo contagiante: “Por que a Lua fica perseguindo a gente quando passeamos de carro?”, “O Cristo Redentor de Presidente Prudente é maior do que aquele do Rio de Janeiro?”, “Por que temos que dormir?”, “O que acontece depois da morte?”, “Como os peixes respiram debaixo d’água?”. 
As minhas filhas adoravam brincar de “Casa de chá”. Elas se imaginavam como anfitriãs de uma elegante casa de chá. Viravam o armário das panelas de cabeça para baixo, montavam a mesa com xícaras, pires, bule. Tinha biscoitos ou petiscos (reais ou de mentira). As bonecas e bichinhos de pelúcia eram convidados. Assim passávamos muitos domingos depois do almoço, explorando diferentes papéis e cenários, aprendendo a negociar, fazer concessões e encontrar soluções para problemas de relacionamento. 
Estou com uma saudade danada de contar histórias na hora de dormir. A Paulinha ganhou uma coleção de livrinhos com textos adaptados de diversos clássicos infantis. O livro preferido dela era o da princesa e a ervilha. Acho que eu li para ela aquela história centenas de vezes! Mas tinha também o Pinóchio, Rapunzel, Branca de Neve, dentre outros. Eram histórias curtas e fáceis de entender, com uma estrutura narrativa simples que envolvia algum problema e sua resolução, como as fábulas famosos de Esopo e La Fontaine. 
Eu consegui manter essa experiência até a minha primeira neta, a Marina. Ela sempre pedia para eu contar histórias de quando eu era criança. Quando eu esquecia alguma passagem ou contava de forma diferente, rapidamente a menina me interrompia para corrigir: “Não foi assim vovô!”, e pedia para eu retomar do episódio que eu havia omitido ou modificado.     Foi brincando de faz de conta que contei uma versão em forma de fábula da célebre história da Caixa de Pandora para a pequena menina: “Zeus, tendo encerrado todos os bens em um jarro, deixou-o com certo homem. Este, sendo impulsivo, queria saber o que havia dentro dele, e removendo o selo e abrindo o vaso, tudo o que estava dentro dele escapou: apenas a esperança ficou para trás e por isso ela é permanente entre as pessoas.” Assim, a Marina desistia de querer brincar de lobo mau “bonzinho”, virava para a parede do quarto e dormia. Bom domingo para vocês e quem quiser que conte outra....

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