No dia 13 de fevereiro de 2019, a região de Presidente Prudente passava por um feito inédito no Estado de São Paulo: a remoção das lideranças da facção paulista a presídios federais. Entre os líderes, o protagonista da história, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. A transferência foi a pedido do MPE (Ministério Público do Estado), após a descoberta de um plano para resgatar o principal líder, em 2018. Desde então, a região viveu sob a tensão de um possível ataque assim como o ocorrido em 2006, o que mobilizou tropa de choque para proteger o entorno da Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, P2 de Presidente Venceslau, onde estavam os transferidos.
Depois de passado um ano, o trabalho do Estado e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) continuam, a fim de manter a situação sob controle. Durante esse período, autoridades voltaram a receber ameaças de morte em cartas apreendidas nas unidades prisionais, principalmente, com ordens de executar o responsável pelo pedido de transferência, o promotor de Justiça do Gaeco, Lincoln Gakiya. “A região está bastante tranquila, a remoção foi um sucesso. Não tivemos rebeliões em presídios regionais, nem mortes e, felizmente, atentados”, afirma Gakiya. Apesar do cenário, reconhece que a situação “obviamente inspira cuidado”.
De acordo com o promotor, nos últimos meses, bilhetes contendo planos de atentados e ameaças foram apreendidos em Venceslau, Junqueirópolis e Presidente Bernardes. Além delas, há outra situação em Prudente que, por ora, não será divulgada. “Os serviços de inteligência, tanto do Ministério Público, quanto das polícias e Administração Penitenciária, estão bastante atentos a possíveis retaliações por parte do crime organizado”. Além disso, conta com reforço da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) e Baep (Batalhão de Ações Especiais).
AS PREOCUPAÇÕES
ATUAIS DO GAECO
No momento, o Ministério Público busca identificar as novas lideranças, tanto dentro do sistema penitenciário, quanto nas ruas. Desta forma, segundo Gakiya, será possível puni-las e retirá-las das ruas. “Os que estão presos, se continuarem a comandar o crime organizado, eventualmente serão removidos ao sistema federal”, afirma. Além das descobertas dos novos nomes, outra preocupação do órgão diz respeito à comunicação dos membros, problema de “difícil solução”. “Eles têm acesso a advogados, visitas de familiares. Então, normalmente, a comunicação é feita através destas pessoas”, lamenta.
Atualmente, estima-se que a facção criminosa tenha 30 mil integrantes, sendo 12 mil concentrados no Estado de São Paulo. Como já noticiado por este diário, com base nas apreensões de drogas e documentos da facção e com valores que auferem com o tráfico de cocaína na Europa, estima-se que movimentem US$ 100 milhões (dólares) anuais brutos, o que equivale a aproximadamente R$ 400 milhões por ano. A facção está a um passo de se tornar uma máfia, mas segundo Gakiya, falta a expertise no que diz respeito à lavagem de capitais “que não é bem definida”, restrita a alguns dos principais integrantes.