Família de judocas: um legado de sabedoria e maturidade

Devido à impossibilidade do pai, Isabelle e Gabrielle assumiram as tarefas do mestre em judô Nelson Morimoto que precisou ser internado após contrair Covid-19

Esportes - WEVERSON NASCIMENTO

Data 21/03/2021
Horário 05:45
Foto: Weverson Nascimento 
Isabelle e Gabrielle continuaram o trabalho do pai, o mestre em judô Nelson Morimoto
Isabelle e Gabrielle continuaram o trabalho do pai, o mestre em judô Nelson Morimoto

Nelson Morimoto teve uma importante atuação no universo do judô, antes mesmo de abrir as portas da academia que leva seu nome, em 1995. Ao longo dos anos o exímio mestre foi diversas vezes campeão regional e inter-regional, mas também foi e é um campeão como pai. Recentemente, após contrair Covid-19 e seu quadro agravar para uma intubação, as duas filhas adolescentes assumiram todas as obrigações do trabalho frente à academia, e ainda realizaram uma mudança de residência já prevista, negociando com pedreiro, encanador e eletricista. Tudo isso só foi possível, segundo elas, porque o pai sempre ensinou a importância do diálogo, da união familiar e da necessidade de encarar toda e qualquer adversidade. 
Isabelle e Gabrielle Morimoto, de 17 e 15 anos, respectivamente, relembram que no dia 10 de fevereiro o pai já não se sentia bem, e no dia 11, após orientação no Centro de Triagem da Covid-19 em Presidente Prudente, precisou ser internado devido ao agravamento da doença nos pulmões. A princípio, o mestre de judô precisou apenas de suporte respiratório, mas dias depois seu caso evolui para uma intubação na Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente. O que elas não esperavam era que tudo aquilo iria impactar suas vidas, mas carregavam a certeza de que o pai sempre as preparou para tudo.
“A gente se preparou para isso a vida inteira, não exatamente para o coronavírus, mas meu pai sempre falou que a gente tem que aprender a se virar para não ficar dependendo dos outros. Esse ensinamento foi essencial para nós duas neste momento”, relembra Isabelle.

Novos ares! Nova Vida!

Durante o período em que o pai ficou internado, ambas contaram com apoio dos avós maternos Valter Luiz Biazon e Maria das Graças Biazon. O casal ficou responsável por cuidar das duas adolescentes, além de prestar suporte, junto a elas, para o retorno de Nelson para a casa nova. Isso mesmo, um novo lar! Antes de contrair a Covid-19 Nelson e as filhas já programavam uma mudança para as proximidades da Rua Doutor Gurgel, no centro da cidade, local onde atualmente fica localizada a Academia de Judô Nelson Morimoto. Só não constava nos planos das jovens que ela aconteceria sem a presença do pai diante da hospitalização. 
O imóvel, em questão, pertencia aos avós paternos (Takao Morimoto e Mitiko Takigawa Morimoto) já falecidos, mas precisava de reparos, que, certamente influenciariam no conforto e no dia a dia dos três. Foi então que Isabelle e Gabrielle decidiram resolver todos os detalhes como contratar pedreiro, encanador, eletricista, faxineira, bem como reativar a água na casa. Mas, tudo isso foi encarado com muita maturidade pelas duas jovens, que também contaram com o apoio de amigos, familiares e pais de estudantes que já passaram pela academia de judô.
No dia da mudança do antigo apartamento localizado no Jardim Maracanã, para a casa no centro, Isabelle ficou responsável por preparar e encaixotar os móveis e objetos, enquanto Gabrielle teve a tarefa de distribuir e organizar tudo no novo lar. “Foi uma força-tarefa. Estávamos mudando e recebendo os profissionais que fariam os ajustes na casa, mas deu tudo certo, preparamos o quarto do meu pai para recebê-lo”, explica Isabelle.   

Manutenção da academia

Outra tarefa que ambas ficaram responsáveis foi a manutenção da Academia de Judô Nelson Morimoto. Para isso, Isabelle e Gabrielle dividiram algumas funções com a certeza de que o pai também as preparou para aquele momento desde quando eram crianças. A mais velha, enquanto auxiliava o pai na Santa Casa, também ficou responsável por dar aulas online na academia. Isso, mesmo! Por crescer dentro de um tatame, a prática e o amor pelo esporte também corre nas veias (das duas adolescentes, inclusive). Já Gabrielle teve uma função mais administrativa na unidade. 
Outro gesto também marcou o respeito que Nelson conquistou em todo o país. Isso porque mestres e professores se juntaram à Isabelle para darem continuidade nas aulas da academia enquanto ele estava internado e mesmo agora após retornar para casa. 
Deste período até hoje, o professor prudentino de judô conta com o auxilio das filhas, que, desde então, assumiram o compromisso de zelar por ele. Enquanto Isabelle dá aulas e cuida da rotina de exames pós-covid-19 de Nelson, Gabrielle ajuda nos cuidados mais pessoais como a alimentação. 
Toda essa experiência é vista e interpretada com muita maturidade, e não precisamos ir muito longe não. Ao olhar para as duas jovens é nítido perceber o quanto a disciplina, os ensinamentos, os conselhos e o amor pelo pai, foram cruciais para que tudo desse certo. “Nós três sempre fomos unidos. Não vejo tudo isso como uma prova do que eu sou capaz de fazer, mas uma prova de que a nossa família pode passar unida. O que antes era amor e união, hoje é uma coisa concreta.”, explica Isabelle. “É uma prova de que a gente pode passar por qualquer coisa juntos”, acrescenta Gabrielle. 

Retorno para casa

Após receber alta hospitalar no dia 19 de fevereiro, Nelson relata que ficou surpreso com toda a dedicação das filhas. “Me surpreendi muito, pois já estava nos nossos planos esta mudança. Mas, elas de uma forma muito madura e consciente resolveram sozinhas. Eu fiquei surpreso porque elas negociaram com eletricista, encanador, por exemplo, de uma forma muito correta. Além disso, elas continuaram com a academia, seja através das aulas on-line, contato com pais de alunos, frequências, folhas de pagamento, entre outras coisas”, explica o mestre de judô. 
Mas tudo foi possível porque ambas cresceram dentro de um tatame, explica Nelson. À reportagem ele relatou que desde pequenas elas estavam envolvidas em atividades da academia, em campeonatos, além de manter um network com outros adeptos à prática esportiva. “Elas deram os primeiros passos dentro de um tatame, cresceram e conviveram com os alunos, e tudo isso foi construído de forma muito positiva na formação delas. Elas amavam e amam cada cantinho da academia”, acrescenta o pai. 
“Eu tive uma experiência ruim por conta do coronavírus, mas prazerosa ao ver e receber esse tipo de atitude por parte das minhas filhas”. Esse legado, sem dúvida, será passado em diante, pois além de carregar no peio o amor pelo esporte, ambas também amam ensinar a prática do judô. 
Atualmente, Nelson se encontra em casa e continua o tratamento pós-covid-19. 

Foto: Weverson Nascimento 

 

Isabelle e Gabrielle Morimoto, de 17 e 15 anos, respectivamente, unidas pelo amor e pelo judô

 

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