A febre dos bebês reborn tomou conta da internet nos últimos dias. E, em Presidente Prudente, as vendas deste tipo de boneca hiper-realista, que imita uma criança real, registraram alta em torno de 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. Este é o caso da Dona Cegonha, que já comercializa tal produto há 10 anos em loja virtual e há um ano em espaço físico. A proprietária, a funcionária pública e artesã, Leila Fernandes Marmore, 44 anos, conta que a procura por adultos se manteve estável, “mesmo após a divulgação das notícias envolvendo essas bebês”.
“Sempre tivemos um público adulto consumidor da nossa arte. O nosso público maior é infantil. No entanto, também atendemos muitos adultos colecionadores e pessoas que encontram nas bonecas uma forma de afeto”, relata. Entre os modelos mais procurados, cita os recém-nascidos com detalhes realistas, como olhos fechados, cabelos enraizados fio a fio e roupinhas de maternidade. Os preços variam conforme o nível de personalização e detalhes, e vão de R$ 600 até R$ 5 mil, em média, revela Leila.
Já no ateliê da Lu Sampaio, as vendas permanecem estáveis, sem aumento recente, mesmo diante da enxurrada de vídeos sobre o tema nas redes sociais. “Minhas clientes são, em sua maioria, colecionadoras, com idade entre 30 e 65 anos. Ainda assim, cerca de 10% das encomendas são destinadas a crianças”, comenta, Lucilene Sampaio Oliveira, 45 anos, que há oito anos trabalha com arte reborn em Prudente.
Em sua loja, que funciona online e presencial, os modelos mais buscados também são de recém-nascidos, “por conta do realismo e da delicadeza”. “Esses vídeos que circularam recentemente nas redes sociais não influenciaram nas minhas vendas até o momento”, aponta a empresária, que comercializa os bebês reborn com valores que vão de R$ 1,5 mil à R$ 5 mil, “dependendo do nível de realismo, dos materiais usados e da personalização solicitada”.
Na Dona Cegonha, cada bebê reborn é feita à mão, com cuidado e atenção aos mínimos detalhes, como cabelo, cor dos olhos, cílios, unhas, conta Leila. “É um processo lento, detalhado e minucioso, onde a pintura final é o resultado de inúmeras camadas. O cabelo é enraizado fio a fio com agulhas específicas. É um processo artístico e artesanal que pode levar dias para ser concluído”, explica Leila. A personalização é parcial, ou seja, o tom de pele, cor dos olhos, cor dos cabelos, roupas, algo próximo ao que o cliente deseja.
“A boneca reborn é uma verdadeira obra de arte. Um dos maiores desafios é o tempo de produção, que exige dedicação, o que nem sempre é compreendido por todos os clientes. Outro ponto é lidar com a desvalorização da arte, já que alguns não compreendem o trabalho artesanal envolvido”, comenta a artesã.
“É muito gratificante e emocionante ver os olhos das crianças e dos adultos brilhando diante da arte reborn, elas se emocionam e cuidam com muito amor. Devemos refletir sobre a importância do retorno das crianças às brincadeiras com bonecas, que é algo saudável para a formação delas, o mundo da imaginação, que forma cidadãos, bem como deixar um pouco de lado esse mundo digital de hoje em dia para resgatar a magia de brincar como antigamente”, ainda considera Leila.
Para Lu Sampaio, o impacto emocional dos bebês reborn “é algo muito bonito de se ver”. “Muitas pessoas relatam sentir conforto, alegria e até um certo alívio emocional ao receberem seu bebê. É uma conexão afetiva que surpreende até quem não conhecia esse universo”, relata.
Ela cita que o processo de produção é todo artesanal e bastante delicado. “Envolve pintura em camadas para simular a pele de um bebê real, aplicação de cabelo fio a fio, escolha dos olhos, montagem, preenchimento do corpo com peso semelhante ao de um recém-nascido, entre outros detalhes. É um trabalho feito com muito cuidado e paciência”, comenta.
Os principais desafios, segundo a empresária, são justamente o tempo necessário para produzir cada peça com qualidade e o custo alto dos materiais, que em grande parte são importados. “Além disso, ainda existe certo preconceito ou falta de compreensão sobre esta arte, mas posso afirmar que amo meu trabalho, faço cada detalhe com muita dedicação. É uma arte linda que alegra as pessoas, tanto crianças quanto adultos”, diz Lu Sampaio.
Dona Cegonha
Na Dona Cegonha, cada bebê reborn é feita à mão, com cuidado e atenção aos mínimos detalhes
Lu Sampaio Reborn
No ateliê da Lu Sampaio, modelos mais buscados também são de recém-nascidos