Flávio Renegado faz turnê com Outono Selvagem

Disco é uma espécie de livro de crônicas, uma coletânea de relatos, nos quais pecados e virtudes se encontram sem julgamentos

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 28/10/2016
Horário 09:32
 

"Outono Selvagem", lançado em junho, pela Som Livre, e com turnê iniciada no mês passado, é o terceiro álbum da carreira do rapper mineiro, Flavio Renegado, 34 anos. Em 14 faixas, ele dispara em um único alvo: a miopia que leva o ser humano a tentar enxergar e viver o mundo em pensamento maniqueísta, uma reflexão de bem ou mal. Segundo o cantor, o disco é uma espécie de livro de crônicas, uma coletânea de relatos, nos quais pecados e virtudes se encontram sem julgamentos. O destaque fica para a música título, um funk que é quase uma biografia sua.

Flávio conta que no ano passado lançou um EP com sete músicas, "Relatos de um Conflito Particular", no qual abordava os sete pecados capitais. E sentiu vontade de fazer outro com as virtudes dele. "Estamos passando pela estação mais selvagem dos últimos tempos, um campo minado na política. Este disco é como o fechamento e a abertura de um novo ciclo... Acredito de verdade que os dois primeiros são o grito de alguém que quer conhecer o mundo, conheci Cuba, Nova Iorque e nasceu o segundo, mais uma acessada, menos música brasileira, um outro diálogo, e agora ‘Outono Selvagem’ mais maduro, com tudo!", expõe o rapper.

Jornal O Imparcial Da comunidade Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte, Flávio Renegado enxergou na música um caminho que o faria voar alto

Assim, com a produção musical dele mesmo e participações de Alexandre Carlo (Natiruts) e Samuel Rosa (Skank), além de dois clipes: "Só Mais Um Dia", com formato 360º e "Redenção", ambos com direção de Erich Batista, Flávio Renegado diz emergir em seus conflitos pessoais e compõe outras sete músicas, inéditas, relacionadas às virtudes, contando a própria história.

"Digo que somos todos pecadores tomados por vícios e também qualidades que são nada mais que tentativas para sobreviver ao caos, ao individualismo, ao ódio. Trazer o outro para perto, afinal a luta por um mundo melhor tem que ser coletiva. E assim seguimos em uma boa vibe, na luta", destaca.

 

O bem e o mal

Flávio Renegado explica que a provocação contida em "Outono Selvagem" é na verdade, uma reflexão sobre o bem e o mal, e como ambos estão presentes em cada um, com muitas nuances, prevalecendo em maior ou menor grau de acordo com as escolhas que se faz pelo caminho.

"Cabe a cada um de nós escolhermos por quais caminhos queremos andar. É uma luta constante, mas depende de nós. É muito importante estarmos conectados com o aquilo que vale a pena. ‘Pão e Circo’, um samba de Chico Buarque, fala desses episódios malucos que temos visto acontecer. Que este disco seja um abre alas para o meu amadurecimento... Quero conhecer o ser humano, a humanidade gritando por socorro e sendo ouvida", frisa o rapper.

Conforme ele, a música que dá nome ao álbum é um funk vigoroso que pega quem a ouve e não solta até passar toda a mensagem nela contida. No caso, quase uma biografia de si, o músico mineiro nascido e criado na comunidade Alto Vera Cruz, na capital Belo Horizonte, no meio de um "selvagem outono" de 1982.

 

Trajetória

O mundo que Flávio Renegado apresenta, por meio de sua música, envolve desde o lirismo e melodias do Clube da Esquina até riffs de guitarra do crossover Run DMC/Aerosmith. Passa pelo universo cinza (pois se colocasse black já definiria a tomada de um lado só) do blues, reggae, MPB, soul e ritmos africanos.

Ele conta que na comunidade do Alto Vera Cruz, enxergou na música um caminho que o faria voar alto. E foi na adolescência que fez as primeiras rimas influenciado por Racionais MC’s e outros nomes do rap. Aos poucos, desenvolveu uma carreira com personalidade, na qual mistura as rimas a outras referências musicais.

Sua estreia foi com "Do Oiapoque a Nova York", em 2008, trabalho que o levou para shows na Europa, Oceania e todas as Américas.

A conclusão deste ciclo foi em um show memorável no Central Park, em Nova York. Depois veio "Minha Tribo é o Mundo" (2011) trazendo uma sonoridade mais urbana, influenciada pela multiplicidade dos movimentos sonoros contemporâneos.

Ele rodou o país e participou de relevantes festivais, como o Back2Black e o Rock in Rio, com a apresentação do trabalho. Renegado concluiu a primeira etapa da carreira com o lançamento do CD e DVD Suave ao Vivo (2014), que teve direção musical de Liminha e Kassin, além da direção artística de Gringo Cardia.

 

Conjunto da obra

"Outono Selvagem" traz na música que dá nome ao disco linhas de baixo tão suingadas quanto gordas de funk setentista unidas ao também já citado sample de Run DMC/Aerosmith em texto onde Flávio narra de onde veio, do lirismo das quermesses ao potencial tanto poético quanto bélico das ruas, até chegar a este trabalho.

Abre com rap e ode à religião afro "Black Star", que carrega muito menos da culpa e mundo em preto-e-branco do que a católica, e participação de Sergio Pererê. O funk se une ao reggae e ao rap em "Rotina", com camadas de blues, principalmente nas guitarras em "Corda Bamba" qual Flávio divide vocais com Joana Rachae. "Pra Quê" traz o suingue das misturas de gêneros em flerte com reggae, rap e funk, sendo que os dois últimos dão o tom de "Luxo Só".

Quando falamos de Clube da Esquina e de samba, a prova melhor da harmonia desses com o rap vem na forma de "Maldita", até que esta é emendada com um funkão de wah wah na guitarra, "Sobre Peixes, Flores e Você".

Novamente o samba dá a cara com uma guitarra funk à Nile Rodgers em "Particulares" e citações da Geni de Chico Buarque são incorporadas em formato rap em "Pão e Circo". Tem também rap sobre base eletrônica ("Além do Mal"), reggae ensolarado ("Colibri, o Pássaro do Tempo"), mais rap ("Só Mais um Dia") e um final apoteótico em "Redenção".

"Meu disco está mais coletivo, com a minha banda sensacional, Gabriel Moura, Chico Amaral. Muitos convidados, por afinidades, que construí uma relação na estrada consolidando com música. Está bacana", destaca o rapper.

 

"OUTONO SELVAGEM"

1 – "Black Star"

2 - "Outono Selvagem"

3 - "Rotina"

4 - "Corda Bamba"

5 - "Pra Quê? "

6 - "Luxo Só"

7 - "Maldita"

8 - "Sobre Peixes, Flores e Você"

9 - "Particulares"

10 - "Pão e Circo"

11 - "Além do Mal"

12 - "Colibri, O Pássaro do Tempo"

13 - "Só Mais um Dia"

14 – "Redenção"

 
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