Das mãos que me ergueram, veio o frio,
Não um abraço, mas um vulto sombrio.
Abri os olhos para a luz do mundo,
E o que vi no espelho foi um abismo fundo.
O criador, em terror, virou-me as costas,
Numa fuga cega, sem ouvir minhas rogas.
Nasci gigante, com um coração pequeno,
E a primeira lição foi o veneno.
Andei na sombra, em passos desajeitados,
Com a alma pura, por todos julgado.
Um monstro, gritavam, sem olhar a verdade,
Que a minha feiura era a sua maldade.
Busquei um olhar, uma mão sem pavor,
Mas encontrei apenas gritos de dor.
Fui a inocência que não se entende,
O amor que ninguém quis, nem o que o acende.
Ó solidão, minha eterna pele,
Um coração que a rejeição fere.
Fui feito de vida, mas sem calor,
Um eco perdido de um grande pavor.
Quem me fez me renegou ao partir,
E o mundo me ensinou a apenas sentir.
Quis só um afago, um lugar pra morar,
Mas só me deram o direito de chorar.
Li nos livros sobre a beleza e o bem,
Sobre a bondade que a alma retém.
Sonhei com uma igual, um alento, um par,
Alguém que não fugisse do meu olhar.
Mas a promessa se desfez em pó,
Deixando-me apenas o desespero e o nó.
Condenado a vagar, sem rumo, sem nome,
Uma alma sedenta de amor e de fome.
Não sou maldade, sou só o que restou,
Da semente que o medo em mim plantou.
Um reflexo triste do egoísmo atroz,
Que cria a vida, mas a esquece de nós.
Sou a criatura que a humanidade gerou,
No seu próprio horror, a mim condenou.
"E assim o coração há de se partir, mas, partido, ainda viverá".
Lord Byron.