Frigorífico encerra atividades e preocupa comércio

REGIÃO - Jean Ramalho

Data 19/07/2016
Horário 08:40
 

Pela segunda vez em um período de aproximadamente cinco anos, a unidade de Presidente Epitácio da JBS/Friboi anunciou na manhã de ontem o encerramento de suas atividades na cidade. Com isso, os 795 funcionários que aguardavam pela decisão sob o regime de férias coletivas terão duas opções: o desligamento, ou a transferência para outras unidades do Mato Grosso do Sul, Goiás ou Minas Gerais. A confirmação da suspensão das operações do frigorífico culminou em um clima de comoção no município, sobretudo no comércio, que já vislumbra o encolhimento nas vendas, acompanhado pelo aumento na inadimplência e, consequentemente, no desemprego acumulado. Conforme projeções da Acipe (Associação Comercial e Industrial de Presidente Epitácio), a extinção dos empregos provenientes da JBS/Friboi deverá resultar em uma redução de aproximadamente R$ 1 milhão no capital movimentado pelo setor na cidade todos os meses.

Jornal O Imparcial Unidade da JBS/Friboi em Epitácio estava em negociação com o Estado há cerca de 30 dias

A decisão pelo fechamento do frigorífico ocorreu cerca de 30 dias após o primeiro anúncio da suspensão das operações na unidade, que ocorreu em 17 de junho. Neste período, a empresa entrou em negociação com o governo do Estado de São Paulo acerca das novas regras tributárias, publicadas em abril deste ano, por meio do Decreto 61.907/16, que para o grupo teria inviabilizado a manutenção das atividades no local.

Como "não obteve retorno até o momento", a JBS/Friboi preferiu encerrar as negociações e optou por encerrar suas atividades na cidade. "A companhia realizou todos os esforços possíveis para manter o funcionamento da planta, adiando o fechamento por um mês, enquanto aguardava a definição de um posicionamento do Estado sobre as novas regras tributárias, mas não obteve retorno até o momento", reforça a empresa, por meio de nota de sua Assessoria de Imprensa.

Conforme o grupo, a decisão de encerrar as atividades da unidade teria sido devidamente comunicada ao sindicato representativo da região, bem como ao MPT (Ministério Público do Trabalho), "com os quais a empresa também manteve conversas durante todo esse período". Além disso, salienta que os 795 colaboradores da unidade poderão optar pela transferência para outras unidades. "Para aqueles que não puderem ou não aceitarem a transferência, a JBS/Friboi promoverá o desligamento, de acordo com aquilo que prescreve a legislação, bem como todos os acordos e regras vigentes", relata.

 

Condições

A unidade de Presidente Epitácio da JBS/Friboi mantinha 795 funcionários e realizava atividades de desossa. Deste total, pelo menos 600 empregados deverão ser oficialmente desligados a partir de hoje. O restante ficará dividido entre aqueles que escolherem a transferência para outras unidades, além dos funcionários dos setores de carregamento e de varejo, que continuarão em funcionamento por tempo indeterminado, e dos trabalhadores com estabilidade, como, por exemplo, as gestantes.

Quem optar pela transferência, a empresa prevê a alocação para unidades localizadas nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás ou Minas Gerais, com uma ajuda de custo de R$ 1,5 mil durante três meses, além de suporte para a mudança e 15 dias para adaptação em alojamento ou hotel.

 

Estimativas

Segundo projeções da Acipe, a extinção dos empregos provenientes da JBS/Friboi deverá resultar em uma redução de aproximadamente R$ 1 milhão no capital movimentado pelo setor na cidade todos os meses. "O comércio será diretamente impactado. Estimamos que o comércio do município deixe de movimentar em torno de R$ 1 milhão todos os meses com esse fechamento. Irá afetar desde a venda de pães nas padarias, até o setor imobiliário da cidade", prevê o presidente da entidade, André Yoshimi Kuba.

De acordo com ele, o primeiro sintoma desse cenário deverá ser percebido através da queda nas vendas. Mas deve se agravar com o aumento na inadimplência e pode resultar em um cenário de demissões no setor. "Quando as vendas caem e a inadimplência cresce, automaticamente os empresários vão começar a cortar seus custos. E o corte de custos, muitas vezes, envolve a dispensa de funcionários", comenta.

 

Constatações

As perspectivas do representante do setor são as mesmas dos comerciantes da cidade. Pelo menos é o que pensa a subgerente da A+ Calçados, Adrieli de Souza Andrade. "No comércio em geral vai impactar bastante. São quase 800 famílias, mas existem muitas outras pessoas que dependem dessa renda. Então, estimamos uma queda de pelo menos 20% nas vendas nos próximos meses", afirma.

A previsão da subgerente toma como base o cenário que se instalou em Epitácio durante o primeiro fechamento da JBS/Friboi, em meados de setembro de 2011, quando cerca de 1,2 mil funcionários foram dispensados. Na ocasião, além do encolhimento nas vendas, o comércio sofreu com o crescimento da inadimplência. "Foi registrado aumento na inadimplência na época do primeiro fechamento, pois a população acaba priorizando as contas essenciais como água, luz, ou aluguel, e acaba deixando as contas tidas como menos importantes de lado", relata Adrieli.

 
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