Futuro passado

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 13/01/2022
Horário 04:30

“Futuro Passado”, esse é o título de um interessante livro do historiador alemão Reinhart Koselleck. Para o autor, o que determina o tempo histórico é a relação entre o campo de experiência (o passado) e o horizonte de expectativas (o futuro). Em momentos de intensas mudanças históricas, há um deslocamento entre ambos e o futuro se descola do passado, sendo diferente daquele. Em momentos de pouca mudança ou estagnação, o futuro acaba sendo determinado pelo passado, isto é, o futuro é o próprio passado. 
Como historiador, ainda me recuso a fazer conjecturas vãs e prever o futuro, mas, as evidências do que se passou ano passado e do que agora vivemos me fazem temer os dias de amanhã. Por um lado, a sensação de calmaria e fim da pandemia que vivíamos até o mês passado caiu por terra. O avassalador avanço da ômicron é evidente e a quantidade de novos casos no mundo e no Brasil é bastante temerário. Principalmente agora, quando muitos abandonaram definitivamente os cuidados básicos e o Ministério da Saúde vive um apagão nas notificações de novos casos. 
Por outro lado, terminamos o ano com uma inflação na casa dos 10,06%, num fenômeno global, mas que no Brasil tem sido notadamente mais severo, pois vem acompanhada de forte desaceleração econômica, desemprego e diminuição da renda. Tudo indica que em 2022 a inflação perderá força, mas certamente continuará próxima dos dois dígitos e bem distante da meta do Banco Central.
Por fim e não menos angustiante, o Produto Interno Bruto, somatória da riqueza gerada no país, dá sinais claros de recessão, apesar do acumulado ter sido de 3,9% de crescimento em 2021. Apesar disso, esse valor não recupera o PIB de 2020, quando o índice despencou 4,1%. O desemprego, por sua vez, mantém taxas de desocupação na casa dos 12,6%, o que representa 13,5 milhões de pessoas sem trabalho. 
Politicamente, mais uma vez, o futuro parece determinado pelo passado, em todos os espectros. Ainda há esperança, dirão alguns, mas essas me parecem eivadas pelo personalismo e ainda faltam projetos de país que possam nortear o debate.
A angústia, é que, diante desse quadro que ora se apresenta, não se vislumbram no horizonte de expectativas saídas para esse presente tenebroso. Tudo indica que o futuro será determinado pelo passado, mais uma vez. 
 

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