Gente que não quer

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 08/06/2025
Horário 04:30

Há um paradoxo que inquieta os empresários: por um lado, o otimismo com novos negócios e expansão. Por outro, o desalento com a mão de obra. E não se trata da falta apenas de profissionais altamente qualificados. Falta gente para fazer o básico, a limpar, empacotar, servir, atender — funções simples, que se aprendem rápido, mas exigem foco, responsabilidade, comprometimento e disciplina.
Na prática, é raro o tipo de trabalhador que chega para somar, muitas às vezes a sensação é de até estarem fazendo algum favor para empresa. Aquele que começa na base aprende o ofício, evolui com o tempo, cresce por mérito e assume responsabilidades. Muitos desses profissionais se tornam líderes, gerentes e até diretores no futuro.
A Teoria X e Y, de Douglas McGregor, desenvolvida nos anos 60, ajuda a refletir sobre isso. Segundo ela, há o tipo X — que evita responsabilidades e precisa ser vigiado — e o tipo Y — mais autônomo, comprometido, que se motiva internamente. O ambiente organizacional pode influenciar essa transformação do perfil X para o Y? Sim. E esse é o ponto central.
As pessoas não nascem tipo X ou Y. Elas se moldam ao ambiente, às crenças que absorvem, à cultura da empresa onde atuam. Um ambiente justo, claro, com boa liderança e chances reais de crescimento pode despertar o melhor das pessoas. Mas há quem se recuse a mudar, reclamando de tudo, mas sem disposição para fazer diferente. Estes vão para a “lanterna” no ranking de funcionários, aguardando a primeira oportunidade de serem mandados embora ou de pedir demissão. Manter um cadastro reserva de currículo ajuda nesta hora.
No livro “A Motivação para Trabalhar”, de Frederick Herzberg, publicado em 1959, está claro: há fatores que apenas evitam a insatisfação — como salário, conforto, benefícios. Mas, para haver motivação real, é preciso mais: reconhecimento honesto, comunicação clara, desafios proporcionais à capacidade do profissional, chance de crescimento, propósito e ambiente de aprendizado constante.
É isso que cria o verdadeiro comprometimento. O colaborador precisa enxergar sentido no que faz. Precisa se sentir valorizado e em evolução. Isso se soma a uma boa estrutura: exige liderança presente, coerência e cultura de valorização.
No fim, são dois lados da mesma moeda: de um lado, profissionais desmotivados ou despreparados; do outro, empresas que ainda não entenderam que cultura organizacional não é detalhe, é estratégia. Enquanto ambos os lados não evoluírem, seguiremos com muitas vagas abertas — e poucas mãos realmente comprometidas para ocupá-las.
 

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