Desde janeiro a minha rotina mudou radicalmente. Tenho trabalhado durante a semana em São Paulo. Em minhas noites solitárias, encontro-me desplugado da televisão, o que me faz pensar na íntima relação da minha geração com a telinha.
Quando ainda morava em Uberlândia, era o rádio que comandava a rotina da casa: programas musicais, noticiários e as famosas radionovelas de onde surgiram atores e atrizes que marcaram época - Paulo Gracindo, Henriqueta Brieba, Mário Lago e Wanda Lacerda. O primeiro televisor que chegou na rua gerou curiosidade dos vizinhos, que se acomodavam com cadeiras na calçada para assistir o noticiário do repórter Esso na TV ligada na varanda do afortunado. Não demorou muito para que o móvel do rádio cedesse o lugar central da sala de estar de casa para o novo equipamento, que funcionava à válvula. Era preciso esperar até 30 segundos depois de girar o botão para os filamentos das válvulas esquentarem e transmitirem a imagem em tons de cinza pelo tubo da TV. E a programação começava no final da tarde com a sessão de desenhos animados que atraía a criançada depois do lanche e banho tomado. Em seguida, as novelas adaptadas das famosas histórias do rádio (O direito de nascer, Jerônimo - o herói do sertão, Em busca da Felicidade), o noticiário e algum filme de bang bang americano. Não dava nem meia noite...o canal de TV saia do ar e só voltava no final da tarde do dia seguinte. Os patrocinadores disputavam os horários das novelas. Azeite Maria, sabonetes Gessy Lever, Palmolive, fermento Royal, xarope São João e sapólio Radium!
A combinação da cultura do rádio com a imagem da televisão gerou um produto cultural diferenciado, que despertou o interesse pela televisão brasileira em outras regiões do mundo - principalmente quando a televisão passou a ser transmitida por satélite, provocando a integração das estações de TV locais a redes nacionais e inserindo o Brasil no circuito de comunicação de massa global. A novela transformou-se num dos principais produtos de comercialização mundial da TV brasileira. Tem até grupo de pesquisa que estuda a influência das novelas no entretenimento e formação cultural da população.
Aos poucos as TVs de tubo cederam espaço para outras tecnologias, como LCD, plasma e LED. E muitos outros formatos de comunicação além da TV aberta. Mas hoje a replicação digital e as imagens virais modelam as próprias realidades que circulam pelo mundo da Internet. É o tempo da manipulação ditada pelo poder dos algoritmos que sabem o que queremos antes de nós. É o mundo comunicacional da nova geração que já habita entre nós.
