A Sala de Cinema Condessa Filomena Matarazzo, no Centro Cultural Matarazzo de Presidente Prudente, ficou à meia luz e com o som mais baixinho tocando ao fundo "Raridade", de Anderson Freire, na tarde de ontem. Foi assim que mamães, professoras e seus filhos e alunos que vivem na condição do TEA
(transtorno do espectro do autismo), foram recebidas para a primeira vez do projeto "Cinema Azul", com exibição do filme "Divertidamente". A realização foi do grupo prudentino de mães, "Amor Azul" e apoio da Secult (Secretaria Municipal de Cultura) em alusão ao "Dia da Concientização do Autista", celebrado no dia 2 de abril.

Alexandra Cominali: "A pior coisa, o que nos machuca profundamente é o preconceito"
Na abertura, Gabriel Dolfini, 21 anos, que é autista, cantou a canção de Daniel "Pra ser feliz", acompanhado do seu professor de violão, Lucas Ferreira. Tudo a ver com o objetivo dessas mães que lutam em busca da inclusão, que é direito de seus filhos e dever de uma sociedade consciente, segundo elas relatam. (confira em destaque a letra completa).
"Eu gosto muito de música romântica. Me emociono quando ouço!", exclamou Gabriel.
Andreia Teixeira Martinez Guilete, 38 anos, mãe da adolescente Giovana, de 13 anos, que também á autista foi quem teve essa ideia, como já mencionou em outra publicação dessa semana, após vê-la ocorrer no Rio de Janeiro, em Brasília (DF) e depois em São Paulo.
"Pensei: o ‘não’ eu já tenho, então vou buscar um ‘sim’ e tentar trazer esse projeto para as nossas crianças. Recebi dois nãos quanto às salas e ao contatar os organizadores de eventos da Secult, na hora nos garantiram apoio. É que mais precisamos das autoridades governamentais e, principalmente, da população em geral que muitas vezes torce o nariz para o que sequer conhece", ressalta Andreia.
Preconceito que machuca
Um certo cansaço pode ser notado no semblante de Alexandra Cominali, 46 anos, moradora de Dracena, que veio com seu filho João Paulo de 11 anos, autista não-verbal. Mas,
surpreende
com suas palavras fortes: "Ele é uma bênção.
A pior coisa, o que nos machuca profundamente, é o preconceito", garante Alexandra.
As professoras da Apae (
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Rancharia e Prudente, respectivamente Liliany Romanholo, 37 anos, e Michele Galhardo Vasconcelos, 33 anos, são enfáticas ao dizerem que o maior problema das pessoas é falar de algo que desconhecem. Que não vivenciam. "A partir do momento que começa a lidar com um autista vamos descobrindo neles potencialidades incríveis. Trabalho com eles há cinco anos e com os métodos certos vamos tentando interági-los", destaca Liliany.
"Trabalho no setor desde que foi aberto, há seis anos. Dentro da instituição procuramos fazer atividades como ocorre aqui fora. Então criamos um ambiente como uma sala de cinema, por exemplo. Mas, trazê-los para o mesmo, fora do mundo que elas eles estão acostumados, é diferente e emociona. Isso é muito bom. Eles precisam de lazer", completa Michele.
MÚSICA
"Pra ser feliz" (Daniel)
Ás vezes é mais fácil reclamar da sorte
Do que na adversidade ser mais forte
Querer subir sem batalhar
Pedir carinho sem se dar, sem olhar do lado
Já Imaginou de onde vem a luz de um cego
Já cogitou descer de cima do seu ego
Tem tanta gente por aí na exclusão
E ainda sorri, tenho me perguntado
Pra ser feliz
Do que é que o ser humano necessita
O que é que faz a vida ser bonita
A resposta onde é que está escrita
Pra ser feliz
O quanto de dinheiro eu preciso
Como é que se conquista o paraíso
Quanto custa pro verdadeiro sorriso
Brotar do coração
Talvez a chave seja a simplicidade
Talvez prestar mais atenção na realidade
Porque não ver como lição
O exemplo de superação de tantas pessoas
O tudo às vezes se confunde com o nada
No sobe e desce da misteriosa escada
E não tem como calcular
Não é possível planejar
Não é estratégico
Pra ser feliz...