Guiné da Esperança

António Montenegro Fiúza

Kebur // 
Ku no mons preña di fomi //
korson kingitidu di dur //
na ñeñu-ñeñu pa no dia di amaña //
no paranta ku fe //
No seta mara korson //
pa mata flemas //
no toma larmas di no kasabi //
no fasi tchuba //
no seta sedu mudu //
pa iagu kirianu na boka //
pa no pudi regua no balur //
aonti no paranta //
aos no kebra //
kebur di aos //
i pa paranta amaña //

Colheita
Com as mãos cheias de fome
o coração enrijecido de dor
lutamos pelo amanhã
plantamos fé
fechamos o coração
para acabar com o torpor
tiramos lágrimas de nossos sofrimento
produzimos chuva
ficamos mudos
para dar água na boca
para regar nosso valor
ontem plantamos
hoje colhemos
colheita de hoje
para plantar amanhã

Nelson Medina

Esperança, nos olhos e nas mãos da Guiné – Bissau; décadas de lutas e conflitos armados não esmoreceram a fé desse povo; secas e fomes não desarmaram os seus corações prenhes de alegria e de amor.
Sem medo da luta, sem medo da morte, cientes de que só concedendo é que se recebe, este povo entrega-se. Planta, ano após ano, sempre e sucessivamente; colhendo… nem sempre. De onde lhe virá a força? 
Com o seu suor, com as suas lágrimas, com o seu sangue rega o solo, rega o seu ser. Colhendo… nem sempre. De onde lhe virá a força?
Séculos de dor e espera, já cantavam os heróis nacionais; séculos desta dualidade entre a experiência do sofrimento e a alegria da esperança; firmes, no território que já lhes pertencia, desde os tempos antigos. Esta Guiné que cada guineense construiu e constrói todos os dias; este país único, singular; esta terra lhe pertence e por ela labuta, sacrifica-se e espera. De onde lhe virá a força?
Mulheres, homens e crianças, idosos e jovens, independentemente da etnia e da tabanka onde vivem, levantam os braços e laboram; sorrindo a cada desafio, cantando a cada obstáculo, numa empreitada sobre-humana de viver e resistir.
Tal mistério parece irresolúvel: nem estudos científicos, sociais e antropológicos, nem a mais profunda investigação conseguiram explicar a irredutível capacidade que o povo guineense tem, de alçar o seu olhar no mais longínquo além, e de continuar a épica jornada da sua existência. 
As suas forças são advindas do sangue que lhes corre nas veias; da esperança e da fé passadas geneticamente, de geração em geração; da firme convicção que um dia, brevemente, desfrutarão da terra, terra dos seus avós e dos seus antepassados.
A força vem-lhes da esperança e esta, vem da força que aprenderam a cultivar, desde sempre. 

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