Há os que vão pra mata, pra cachoeira ou pro mar...

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 05/09/2021
Horário 05:30

"Há os que vão pra mata, pra cachoeira ou por mar, mas eu que sou do samba vou pro terreiro sambar. Esse refrão é de um dos mais belos sambas-enredos da história. Samba que retrata o domingo do povo carioca. Samba de 1977 da União da Ilha do Governador, que o lendário intérprete, Haroldo Melodia, nos dá a sensação de estar vivendo um domingo feliz na cidade maravilhosa. 
Qual seria a minha preferência de lazer? Comecei percorrendo um longo caminho, buscando um estado de libertação, de paz, de desapego material e cheguei à conclusão que não passo de um caos ambulante. Só se eu fosse Sidarta Gautama para atingir o Nirvana. Fui para as matas, me banhei nas  cachoeiras,  mas não aguentei os insectum. Resolvi me aventurar no mar. Como um verdadeiro marinheiro de primeira viagem, entrei de boca aberta, pisei num siri, encostei numa água viva e comecei a gritar: Shark, Shark,  dei vexame grande  e saí como se fosse um saleiro. 
Puxa vida como está difícil encontrar o meu paraíso. Subi os morros cariocas para ir em qualquer terreiro e  sambar. Quase virei o Fernandinho Beira-Mar, coisa de loco. Voltei no tempo e me lembrei de uma viagem que fizemos em família, numa Kombi. A minha família é numerosa e só uma Kombi pra caber “nóis”. Fomos para a longínqua Ilha Comprida. A viagem foi uma Odisseia de Ulisses. Ninguém no mundo conhecia essa tal de Ilha Comprida, mas meu pai que sempre teve um espírito aventureiro foi um prato saboroso para ele. 
Acho que em outras vidas ele deve ter sido o Marco Polo ou um descobridor dos sete mares. 
O querido amigo, Renato Largueza, foi com sua família nessa aventura. Apelidamos ele de Zatopeck, em referência ao grande Emil Zatopeck, corredor tcheco, que venceu as provas de 5.000 mil metros, os 10.000 mil metros e a maratona numa mesma Olimpíadas de 1952 em Helsinque. Renato era uma usina de energia.  Depois de uma semana de viagem, chegamos nessa tal de Ilha Comprida. E olha que ela fazia jus ao nome. Vai ser compridaaaa e longeeee assim na... 
Chegamos e ficamos numa casa exageradamente simples. A casa ficava literalmente na areia. Tinha umas 20 pessoas e sem ar condicionado. Acho que nem tinham inventado o aparelho. Não queríamos nada da civilização, do mundo moderno. Me senti um Robinson Crusoe. Eu acabei entrando nessa onda naturalista. Pra chegar à praia só se fosse de camelo, parecia o Deserto do Saara. A praia era muitooooo comprida e deserta. Os únicos que andavam pela praia eram os siris. Tinha milhões de siris e me senti na 25 de março do mundo animal. 
E quem queria entrar no mar? Eu não tive a menor vontade por causa dos siris. Me encheram tanto o saco que para matar esse pavor, me arrumaram botas de borracha até o joelho. Parecia que ia enfrentar o monstro Hidra. Entrei pisando devagarinho como no samba de Martinho da Vila. De repente o sádico do meu irmão Teco vem de mansinho e coloca um siri dentro da bota. Vocês podem imaginar o terror que senti, corri mais que o Usain Bolt, berrando e chamando a minha mamãe. E depois desse trauma, a Maria Célia Macuco insiste em dizer que sou mimado. Me ajudem aí. Vejam vocês.

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