"A República foi um processo de passagem da monarquia para um regime representativo diferente, com a troca de um monarca por um presidente eleito no comando do país. Mas, diferente da mudança de regime em outros países, o Brasil não teve grandes alterações na sociedade, exceto com relação à escravidão", relata Jayro Melo, livre docente aposentado na área de história e historiografia, pela FCT/Unesp (Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), ao analisar a atual conjuntura política e social do país, que comemora hoje 127 anos da Proclamação da República Brasileira, promulgada no dia 15 de novembro de 1889.

"Proclamação da República" retratada em óleo sobre tela pelas mãos de Benedito Calixto (1853-1927)
"Com a abolição da escravidão, os ex-escravos sofreram com uma situação de abandono total e não conseguiram se encaixar no mercado de trabalho", explica o professor. "Isso reflete até hoje, com grande parte da população ainda convivendo com o trabalho informal, não qualificado e com o sub-emprego, o que mantém a dificuldade de inclusão", completa.
Ainda segundo o pesquisador, os momentos de turbulência vividos atualmente pela sociedade brasileira são conflitos inevitáveis em nossa sociedade. "Desde a instauração da democracia, após as ‘Diretas Já’, houve um racha na sociedade brasileira, entre determinados setores da elite e os trabalhadores, que ainda é reflexo da manutenção do poder nas mãos dos mesmos personagens desde a Proclamação da República e da exclusão social após a libertação dos escravos, que são questões que continuam permeando a sociedade brasileira", detalha o professor.
Instituições republicanas
"Não acho que é o fim do mundo, mas sim o começo de uma nova era nas políticas brasileiras". Essa é a posição de Jayro a respeito do atual – e turbulento – momento pelo qual passa a política no país. "Este momento, com todos esses fatos que estão ocorrendo, com envolvimento não só do PT , mas de todos os partidos, mostra que as instituições republicanas estão funcionando melhor do que antes", opina o historiador.
"Hoje, o que observamos é um processo de ruptura lenta e traumática com essa forma de fazer política, não só a tradicional, mas também aquela política dentro de nossas casas", explica Jayro, destacando a importância de ações contra a corrupção, além do afastamento e até mesmo prisão de políticos e ainda mudanças como a trazida pela Lei Maria da Penha, que combate a violência contra a mulher e outras regras em defesa de minorias. "São processos positivos que fazem valer as instituições brasileiras", conclui.