Homeschoolling, não

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 24/05/2022
Horário 04:30

No Fórum Mundial de Educação em Dakar, Senegal, em 28 de abril de 2000, fixou-se o compromisso registrado no documento conhecido como “Marco de Ação de Dakar, educação para todos: cumprindo nossos compromissos coletivos”. No artigo 205 da Constituição Federal Brasileira (1988), restou claro o direito de todo ser humano à educação de qualidade. Vale dizer que a educação proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Veja a inteireza de sua proposição!
No século XVII, Reverendo Comenius, precursor da valorização da educação, tinha como foco principal promover uma “igual educação para todos”. Apresentou em sua Didática Magna uma proposta de ensino que, além da instrução, buscava uma transformação do indivíduo por meio do ensino de valores éticos e morais conduzindo-o ao saber cristão e à vida. Nesse sentido, argumentava que todo o homem/ser humano, visto como a excelência da criação divina, deveria ter acesso à educação, uma vez que sem a graça do Espírito Santo e sem a instrução, não se atingiria a humanidade plena. Para melhor compreensão dos princípios defendidos por Comenius, é importante analisar o contexto histórico vivido por ele e que o antecedeu.  
No século XX, o Brasil ofereceu ao mundo, Paulo Freire. Nascido em Recife em 1921, cresceu em uma família muito simples. A crise de 1929 afetou o pequeno comércio do pai, o levando à morte. A mãe de Paulo Freire, uma mulher cristã, educou seus filhos pela generosidade de pessoas que ajudavam na manutenção da família. Freire, dedicado aluno, ganhou o auxílio de um dos melhores colégios do Recife, retornando ao espaço como professor de língua portuguesa. Nessa época cursou a faculdade de Direito, mas se frustrou com a escolha quando precisou retirar os instrumentos de trabalho de uma profissional da saúde que não conseguira pagar suas dívidas.
Com o educador Paulo Freire foi possível compreender que existem duas concepções a mover a educação mundial: a bancária e a humanizadora. A educação bancária pode ser melhor entendida quando se traz à memória evidências da educação tradicional, marcadamente passiva, ao somente transmitir a informação aos educandos. A analogia com o banco ao ser procurado pelo cidadão para se depositar importância, era proposital para elucidar a educação convencional: os alunos eram vistos como recipientes vazios, prontos para receber os conteúdos disciplinares (depósitos) de seus professores, detentores únicos do saber.
A educação humanizadora tem em sua metodologia a problematização - os alunos devem compreender a realidade que os cerca respeitando a diversidade cultural e histórica da vida. Neste caso, o aluno deixa de ser um simples receptor de conhecimento e o professor, importante mediador dos saberes curriculares. Cabe à escola, no passado ambiente único para se encontrar os saberes, no presente: espaço de socialização e companheirismo, enquanto se aprende em meio ao ensino, pesquisa e trabalho coletivo. 
A aparência generalista da educação (apenas aparência) sugere aos que querem o homeschooling no Brasil que a educação se faz apenas com transmissão (educação bancária) de conhecimentos e informações. Ah, gente querida, ingênuo e perverso engano! Mais do que uma cabeça cheia é preciso uma cabeça bem-feita e, para tanto, educação se faz com: alunos (famílias), professores e escola. 
 

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