Horas perdidas

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 09/12/2025
Horário 06:00

Quando meu pai se foi eu fiquei com uma sensação estranha, além da dor de ter perdido o grande amigo da minha vida toda. Esta sensação me acompanhava e eu não sabia bem o que era. 

Tentava compreender por qual razão eu me lembrava dele com uma certa culpa e só depois de algum tempo na terapia eu descobri o que era: vivia uma necessidade de ter estado mais com ele, vivido mais dias com ele, passado mais horas, confidenciado mais, chorado mais ao seu lado. 

Alguns podem dizer que este sentimento após uma perda tão dura é normal e muita gente, de fato, até me consolava dizendo que era assim mesmo, que a perda faz com que pensemos que nada do que vivemos foi suficiente. 

De fato, colocando bem no papel eu até concordo, mas vai convencer minha mente disso? Vai me convencer que aqueles minutos em que fiquei bravo com ele por qualquer bobagem hoje não fazem uma falta absurda? Olha, eu precisei de algumas boas horas de terapia para me convencer de que a vida é assim mesmo, rápida, fugaz e irremediável quando decide simplesmente terminar. 

E aos poucos, eu reconheci e reconheço até hoje que a vida mora mesmo em cada respiração, em cada momento que temos com aqueles que amamos. Nos estudos que já fiz sobre a psicologia positiva e o que significa de fato felicidade, percebi que nunca vamos ser felizes o tempo todo, mas sim em poucos momentos que não queremos que acabe. 

Inclusive, no café da tarde na casa da mãe, da avó, do amigo e da amiga que podem faltar a qualquer momento. 

Tento passar esta lição aos meus filhos, mas eu mesmo tenho costume de falhar, dando mais atenção a coisas bobas como o celular, um streaming ou um momento de recolhimento mesmo. Mas eu me esforço e retomo. Busco no horizonte das minhas experiências passadas a força em compreender que o desperdício de cinco minutos com alguém que se ama pode custar uma vida inteira de arrependimento.

Esses minutos, antes considerados perdidos, tornaram-se os únicos que verdadeiramente encontrei. Eles são o antídoto contra o arrependimento, a pequena eternidade que plantamos no chão fugaz do tempo. Porque, no fim, não somos lembrados pelas horas que trabalhamos, mas pelos instantes em que, de corpo e alma, realmente paramos para amar.

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