Hormônio para saúde? Primum non nocere

OPINIÃO - Jair Rodrigues Garcia Júnior

Data 06/05/2023
Horário 04:30

Há dois anos, em plena emergência sanitária da pandemia da Covid-19, havia muitas pessoas esperançosas quanto à produção de uma vacina para o coronavírus. Mas quando da iminência da liberação e uso da vacina, os não crentes na ciência começaram a se mobilizar para desacreditar e demonizar as vacinas que salvariam milhões de vidas.
Provavelmente, muitos dos contrários à vacina ignoravam (a condição de “não saber”) sobre os processos rígidos que a indústria farmacêutica deve seguir à risca antes da liberação comercial dos medicamentos, incluindo as vacinas, pelas agências de regulação e sanitárias.
A indústria farmacêutica tem o ônus da prova e a liberação de um medicamento só acontece se o princípio da não-maleficência (primum non nocere) estiver sendo atendido. Isso significa que, primeiramente, o medicamento não pode fazer mal para o paciente. Em segundo lugar vem a análise de sua eficácia, ou seja, se ele realmente resolve o problema ao qual se propõe (beneficência).
Mesmo atendendo aos dois requisitos, dificilmente o medicamento não causa alguns prejuízos, em geral de pouca gravidade, para algumas pessoas. São os potenciais efeitos colaterais. Por isso, mesmo depois de aprovado, o medicamento continua “em observação” pelas agências. Quando se constata entre os usuários de médio e longo prazo que os efeitos colaterais se apresentam mais graves do que os benefícios, a indústria é forçada a retirar o medicamento do mercado. Foi o que ocorreu com o anti-inflamatório Vioxx da Merk em 2004, mesmo sendo o mais vendido na ocasião.
Primum non nocere é também um princípio de bioética que deve ser sempre respeitado pelos profissionais de saúde, os quais devem agir sempre no sentido de evitar “riscos e danos” (nocere) ao paciente com medicamentos, procedimentos etc desnecessários para a condição do paciente. Por isso, analise muito bem quando tentarem te convencer de que você, sendo saudável, precisa de um medicamento ou hormônio que, verdadeiramente não precisa e que pode te causar prejuízos.
A prescrição de medicamentos é uma grande responsabilidade do profissional de saúde, visto que sempre trás efeitos colaterais mais ou menos graves. Por isso, vacinas para o coronavírus não seriam liberadas para o uso por bilhões de pessoas, como política de Estado, se não fossem “seguras e eficazes”. Por isso, também eu e você não devemos praticar automedicação, pois quase sempre não somos aptos a acertar o diagnóstico e usar o medicamento correto, com sério risco de causar dano e não benefício.
 

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