Igrejas evangélicas celebram 500 anos do movimento

Líderes religiosos aproveitam data para destacar necessidade de revisões que extirpem a “comercialização do evangelho”

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 31/10/2017
Horário 12:02

A decisão de Martinho Lutero de afixar na porta da capela de Wittenberg, na Alemanha, 95 teses a respeito da conduta da Igreja Romana no século 16 foi o pontapé inicial de um movimento reformista que provocou a ruptura do cristianismo ocidental. Transcorridos 500 anos desde a Reforma Protestante, igrejas evangélicas lembram hoje não só a importância desse marco histórico para a liberdade religiosa no Brasil, como também a necessidade de novas reformas que extirpem o uso das escrituras para fins mercadológicos.

O pastor da Igreja Batista Boas Novas, em Presidente Prudente, Mateus Oliveira Mello, aponta que a reforma trouxe mais autonomia para a sociedade cristã num tempo em que somente a instituição realizava a interpretação da Bíblia Sagrada, permitindo que as pessoas pudessem ler no seu idioma (e não apenas em latim) e fizessem sua própria interpretação, decidindo a forma como pretendiam conduzir suas vidas.

Entretanto, o religioso acredita que este propósito passou a ser deturpado com o tempo, considerando que, atualmente, há muitas igrejas que utilizam o livro sagrado para se elevar perante as massas e manipulá-las em prol de interesses próprios. “São pastores que fazem uma leitura distorcida da Bíblia, com o objetivo de explorar a fé dos cristãos. Essas interpretações são normalmente isentas de sinceridade e fruto de ignorância por parte dos líderes”, expõe. Tal visão também é partilhada pelo pastor da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) Central, Luciano de Sena Pereira, o qual observa que alguns aspectos foram gradualmente “deformados”. “Hoje, vemos igrejas que perderam o foco no evangelho simples e iniciaram a comercialização das escrituras ou o apelo ao misticismo. Precisamos voltar aos padrões iniciais da reforma protestante, que são as cinco solas”, avalia.

As cinco solas às quais se refere Luciano são somente a graça, somente a fé, somente Cristo, somente as escrituras e somente a glória a Deus. Para o pastor da Assembleia de Deus Ministério do Belém, Damásio Messias Farias, esses modelos “estão sendo contrariados”, logo, é necessário que os 500 anos da Reforma Protestante promovam a reflexão sobre a importância de tal movimento não ser apenas um fragmento da história, mas um exemplo para muitas reformas futuras. “Infelizmente, as escrituras sagradas estão sendo violadas em muitos sentidos”, lamenta.

Em uma breve contextualização, Damásio explica que as teses de Martinho Lutero buscavam denunciar práticas duvidosas da Igreja Romana, entre as quais se destacava a aplicação de indulgências, que consistiam em um conjunto de favores oferecidos pela Igreja, sob a representação do papa, para a absolvição de almas mediante determinado pagamento, que, por sua vez, era empregado na construção da Catedral de São Pedro, posteriormente denominada Basílica de Roma.

O pastor acrescenta que, após a propagação das ideias de Lutero, o monge foi considerado herege e, para sua proteção, ficou recluso no castelo de Wartburg, onde se dedicou a traduzir o novo testamento da Bíblia do latim para a língua alemã, além de desenvolver os princípios de uma nova religião, que, mais tarde, se fundamentaram na doutrina luterana. A partir desta, surgiram outras correntes, como a presbiteriana, a anglicana, a batista e a metodista. “Nessa sequência, tivemos as igrejas tradicionais, as tradicionais de reforma, as pentecostais, as neopentecostais e, mais recentemente, as emergenciais”, pontua.

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