Meu pai, Ilem Isaac, é um nome que ecoa em minha memória como um acorde suave, mas cheio de força. Filho de imigrantes sírios, carregava no sangue a resiliência de um povo que soube recomeçar em terras distantes. Seu pai, Melem Isaac, e sua mãe, Rosa, fincaram raízes aqui, e ele, meu pai, floresceu à sua maneira.
Ele se casou com seu grande amor, Mariana. Desse amor, nasceram sete filhos, sete mundos para cuidar e amar. Lembro-me do grande sonho de seu pai, Melem Isaac, que queria vê-lo médico. Uma profissão de prestígio, de certezas. Mas meu pai, ah, meu pai preferiu a liberdade. A liberdade de ser um comerciante, de traçar seu próprio caminho, ainda que sem o rótulo de uma profissão definida.
Corinthiano disposto a qualquer sacrifício para seu time de coração. Seu pai doou o terreno onde foi construído o Parque São Jorge do nosso inesquecível e amado Corinthians de Presidente Prudente. Tempos de ouro. Em qualquer jogo do Todo Poderoso ele dizia quando pressentia o perigo de gol: "Ih, lá vem bola "Arta" kkk. A defesa não inspirava confiança. Quem conheceu meu pai vai entender quando ele chamava alguém de "futurão".
Era a própria calmaria em pessoa. Era solícito e atencioso com todos, sempre pronto a estender a mão. E a fé, essa era sua âncora. Um homem profundamente religioso muito espiritualizado. Tinha em Paulo seu apóstolo preferido, talvez por identificar-se com a jornada, com as estradas e com a incessante busca. Dizia mostrando sua admiração: "Não há ventre de uma mulher que nascerá um homem como João Batista". Uma citação de Jesus, encontrada em Mateus 11:11 e Lucas 7:28.
Às vezes, paro e penso: como meu pai, sem uma profissão "definida", encontrava a paz que parecia tão distante? Ele vivia nas estradas, no vai e vem de um lugar para outro. Adorava dirigir, e vender carros era sua paixão, uma dança constante entre o asfalto e a esperança de um novo negócio. Muitas vezes, sem dinheiro, mas com o coração transbordando de fé e otimismo. Era como se a estrada, com suas infinitas possibilidades, fosse o seu templo, e a liberdade, sua maior riqueza.
Ilem Isaac. Um homem que, talvez, não tenha tido a "paz sonhada" no sentido convencional, mas que construiu a sua própria, tijolo por tijolo, quilômetro a quilômetro, com a fé como bússola e a esperança como combustível. E essa, para mim, é a maior das heranças. Me lembro que ele pediu para ver o mar mesmo com sua saúde debilitada. Ficamos preocupados, mas resolvemos atender seu último pedido. Ligamos para meu primo Ricardo, que tem uma bela casa na Praia da Baleia no Litoral Norte de São Paulo. Meu primo ficou feliz e deixou tudo preparado para receber meu pai. Meu irmão Teco o levou para essa última viagem.
O interessante é quando meu pai viu a estrada se sentiu em seu mundo. Chegando na Praia da Baleia, foi recebido com muito carinho e amor pela família desse meu primo querido. Meu pai pediu para ver o mar. O levaram numa cadeira de rodas e quando ele viu o mar abriu seus braços como se estivesse se despedindo desse mundo. No seu epitáfio está escrito: "Combati o bom combate, e guardei minha fé".