Jovem é outro papo

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 25/06/2023
Horário 04:10

Quem acompanhou a carreira do humorista Chico Anysio deve se lembrar de uma personagem que ele criou e fez muito sucesso: o Jovem, o rei da confusão. Contestador, muito crítico, ele sempre terminava o quadro humorístico com o jargão “ser jovem é outro papo”! Andam dizendo por aí que os jovens de hoje são muito diferentes. Eles amam os joguinhos eletrônicos e estão plugados a todo tempo. Não abrem mão do entretenimento, mas são também muito interessados nas causas sociais: a violência contra as mulheres, a sustentabilidade ambiental, o respeito aos povos indígenas etc. Com base neste perfil de interesses, cresce o debate a respeito do que a universidade pode oferecer para eles e a necessidade das escolas adequarem seus currículos para se aproximar mais dos jovens e de suas demandas. Fico pensando o que de fato mudou para essas juventudes que estão por aí. Em essência seriam tão diferentes de outros tempos?
Não pense que a escolha pela carreira de Geografia tenha sido uma decisão fácil para mim. Eu estava no 3o ano do ensino médio (já se passaram 43 anos!). Eu me lembro que sempre tive um espectro muito amplo de interesses. Gostava de literatura e, ao mesmo tempo, de física e de química. Tinha interesse pela política, mas também pelas artes. Avalio que as aulas que me despertaram para o conhecimento geográfico foram, de fato, as aulas de história do Prof Raimundo Bandeira Campos. Até hoje eu guardo alguns apontamentos de suas aulas ... Tenho certeza de que as escolhas dos jovens ainda passam pelas experiências marcantes que tiveram com algum professor. Você se lembra de algum querido professor?
Claro que a formação profissional é muito mais ampla do que o jovem imagina ao fazer uma opção para o vestibular. É uma ilusão achar que a universidade é a responsável por todos os aspectos que envolvem esse processo. Durante o curso de graduação o meu grande envolvimento foi com a Educação, um campo de reflexões e de atuação muito importante na minha vida profissional. Comecei a dar aulas muito cedo. Eu estava no 2o ano da faculdade, tinha apenas 19 anos e lá estava eu numa aula de geografia com crianças de 11 anos! Com base nas experiências que comecei a desenvolver em sala de aula, fui convidado para escrever livros didáticos, participei da elaboração e implementação do famoso exame do ENEM...
Foi somente no último ano de graduação que comecei a me despertar para uma nova temática: a saúde pública. Essas mudanças de rumo não se encontram apenas nos livros. É preciso sujar o pé de barro. Andar pelas ruas de terra, becos e vielas das favelas. Conversar com todo tipo de gente. Os povos do campo e da floresta, os moradores do bairros mais distantes e pobres, todos que por algum motivo não conseguem chegar até as carteiras universitárias e que anseiam por espaços para troca de ideias, discussões das experiências de vida, elaboração de novas perspectivas profissionais e culturais. Ser jovem sempre foi procurar por espaços coletivos mais dinâmicos, vivos e abertos ao futuro. Afinal, “jovem quer que o mundo corra à revelia”, não é mesmo Chico Anysio?
 

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