Jovens cineastas de Machado lançam 3º longa metragem, no Matarazzo: “Duas Águas”, amanhã  

Diretor diz que embora tenham evoluído, começado do zero e hoje próximos da perfeição que podem chegar, domínio é uma palavra forte para usarem

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 08/12/2018
Horário 04:28
Divulgação: Filme “Duas Águas” está mais relacionado à vida cotidiana, uma família comum
Divulgação: Filme “Duas Águas” está mais relacionado à vida cotidiana, uma família comum

Após “O Poliglota” (2016) e “Briga de Reis” (2017), no auge das novas tecnologias, com aparelhos celulares servindo para uma infinidade de coisas, uma galera jovem de Álvares Machado produz longas metragens, integralmente com a câmera desse tipo de telefone. “Duas Águas” é a terceira produção e seu lançamento será neste domingo, às 19h30, na Sala de Cinema Condessa Filomena Matarazzo, no Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente. 

O roteirista e um dos diretores do filme, estudante de jornalismo Marco Vinícius Ropelli, 18 anos, conta que a história começa quando um corretor de imóveis, Leonardo Leiva, tenta vender a residência do falecido Chico Menezes e acaba se deparando com a foto de uma mulher colada no teto da casa, sobre a cama do quarto principal.

Curioso para entender o fato tão pitoresco, Leonardo decide que levará a foto para o filho do antigo dono da residência: Pedro Menezes. Lá ele se depara com uma história dramática e ensanguentada de uma família que sofreu, mas nunca se distanciou do amor. Resta somente a dúvida de até que ponto a história é verdadeira.

 

“Nós conhecemos o cinema amador e fazemos de coração. Essa é a grande vitória que nos orgulha: produzir com amor e por isso fazer bem feito ainda que não tenhamos formação na área!”

Marco Vinicius Trindade Ropelli,

cineasta

 

Segundo Marco Vinícius o nome “Duas Águas” fica mais claro quando se assiste ao filme completo. Mas, explica que faz referência a duas coisas. A primeira, o pano de fundo principal do longa que é uma casa de duas águas, onde tudo surge, onde a trama nasce. E tem a parte metafórica em que traz ao longo do roteiro a comparação entre a felicidade representada pela saliva do beijo e a tristeza pelas lágrimas da tragédia.

O jovem cineasta diz que no processo de escolha da trilha sonora a equipe optou mais por trazer músicas brasileiras, como as que possuem letras, por estar mais próximo de um cotidiano, uma família brasileira comum. Claro que existem estrangeiras também, como as instrumentais. Porque nos dois primeiros optaram por músicas francesas, com resultado sensacional para “O Poliglota”. E no “Briga de Reis”, por americanas que casaram super bem com a trama. 

 

Preparação

Conforme o roteirista, este filme foi um pouco diferente dos anteriores produzidos lá quando estavam ainda no ensino médio e se encontravam mais facilmente, montavam juntos as ideias, e às vezes até ensaiavam um pouco o roteiro.

De acordo com ele, em “Duas Águas” foi o momento em que cada um foi para um lado fazer cursos diversos, faculdade, mas ainda assim justamente pelo carinho que todos sentiram por esse trabalho conseguiram se reunir.

“O processo de produção começou uns seis meses antes da gravação, mais ou menos no final de 2017 começo de 2018, que é o momento de idealização, preparação do roteiro, depois se decide como será feita a direção, figurinos, locais de gravação, etc. A gravação em si, assim como nos outros dois iniciaram no mês de julho, quando ocorrem as férias, tanto escolares quanto da faculdade”, salienta o jovem.

Por estar muito mais relacionado à vida cotidiana, Marco Vinícius diz que foi mais fácil encontrar os locais de gravação. Muitas das cenas foram gravadas nas casas da própria equipe. Além disso, foram utilizados o Cemitério Municipal de Machado, uma ESF (Estratégia de Saúde Familiar) com autorização da Secretaria de Saúde. E uma cena em uma chácara de Montalvão, onde mora uma das atrizes.

 

Desafios

Sobre as dificuldades maiores ao longo do processo de trabalho Marco Vinicius cita que estão mais ligadas à parte técnica, nada que tenha impedido bons resultados, mas dificultou um pouco, principalmente no que diz respeito ao som porque muitas vezes em locais que não era bem planejado em questão acústica tinham dificuldades em ouvir as falas do filme.

Problema que para o terceiro foi resolvido conforme ele com a compra de novos equipamentos para realizar a filmagem e o resultado foi bem positivo. Ele enfatiza que nunca tiveram nenhum problema significativo. E mesmo não tendo uma câmera tão profissional, sendo inclusive “Duas Águas” filmado com celular, sempre obtiveram êxito.

Reunir todos em um momento que cada um tivesse disponibilidade, tendo em vista que cada um tem sua vida, seus afazeres, também foi um pouco complicado, mas todos muito engajados sempre arrumavam um tempo para isso.

 

Evolução

Lançando agora o terceiro filme Marco Vinícius diz que embora a equipe tenha evoluído muito, começado do zero e hoje próximos da perfeição que podem chegar, domínio, segundo ele é uma palavra muito forte ainda para usarem.

Ele destaca que tendo em vista que fazem cinema amador e não profissional é muito positiva a evolução técnica de cada ator, dos equipamentos, aparelhagem, roteiro crescente muito interessante, direção, mas domínio total ainda não possuem.

“Existe sim um conhecimento muito maior e até uma necessidade de estudos que nós mesmos resolvemos fazer por questão de querer executar um trabalho bem feito. Entretanto, é diferente de alguém que tenha feito uma faculdade de cinema, um conhecimento mais profundo das técnicas acadêmicas. Nós conhecemos o cinema amador e fazemos de coração. Essa é a grande vitória que nos orgulha: fazer com amor e por isso fazer bem feito ainda que não tenhamos formação na área!”, exclama o futuro cineasta nacional.

 

Feeling para a coisa!

Marco Vinícius frisa que todas as filmagens foram feitas com a câmera do celular, e inclusive, montaram estabilizadores de imagens com materiais caseiros como cano de PVC, parafusos, EVA’s, por exemplo. Isso só foi possível exatamente pelo fato do celular ser mais leve que as câmeras. E o resultado foi muito legal.

Isso, para ele prova que não é necessário o material mais caro para uma produção de qualidade. São amadores e se orgulham da qualidade como produzem porque se dedicam totalmente. E a própria técnica. Pelo pouco que diz saber sobre o que ocorre no mundo cinematográfico profissional vê que existe uma tendência clara de facilitação das coisas.

“Nos documentários, por exemplo, muitas vezes estão sendo utilizadas filmagens feitas por pessoas comuns. É o momento que todos têm nas mãos a capacidade de filmar, registrar tanto fotográfico quanto audiovisual. Não pode descartar só porque foi feito por uma pessoa que não tem formação e nem equipamento melhor que existe no mercado, mas pode ser a melhor imagem do momento”, acentua.

 

Outras duas produções

“O Poliglota” narra que na década de 1960 um crime abala a alta sociedade. Mary Miranda, a esposa de um diplomata conceituado, desaparece misteriosamente durante uma viagem dele a Paris, deixando somente um enigma a ser desvendado: A palavra “O Poliglota”, apelido pelo qual o diplomata era conhecido, escrita em sangue no livro de anotações do marido. Uma trama regada de sofisticação e mistério. Caberá aos detetives Alfredo Hoytman e Takeshi Harada desentrelaçar as teias de amor e ódio que rodeiam diversos suspeitos.

Em "Briga de Reis" a história fictícia de um Brasil real, as eleições estão se aproximando, um matador de aluguel recebe a encomenda de assassinar o corrupto e favorito candidato ao governo de São Paulo, enquanto um casal de agricultores se vê pressionado a vender suas terras e com ela parte de sua história a preço de banana. Trata-se de uma trama que revela as mazelas da corrupção, o império do crime e a degradação de uma sociedade doente. No Brasil, terra de poucos heróis, uma história de muitos vilões. “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão?”

 

Boas recordações

Desde que estavam no ensino fundamental ainda Marco Vinícius e seus amigos gostavam muito de teatro. Ele sempre roteirizou e dirigiu e eles atuavam, sem nenhuma formação na área. Só por gostarem muito mesmo da arte, e por serem sempre incentivados pela professora Rose Frascas, de Educação Artística. “Chegou um momento que sentimos a vontade de ver nosso trabalho eternizado para que pudéssemos rever sempre. O primeiro foi ‘O Poliglota’, adaptação de um conto que eu havia escrito e adoramos. Foi paixão imediata pelo cinema. Comecei a estudar um pouco mais sobre as técnicas cinematográficas, um sobre os grandes diretores e aos poucos fomos nos aperfeiçoando. Não temos nenhum projeto em mente, mas se em algum momento surgir uma oportunidade, alguém trouxer uma ideia ou pelo menos compartilhar a vontade de fazer, faremos e de maneira independente como sempre. Temos paixão pelo cinema, por filmes amadores. Não há planejamento, mas também não há impedimento”, pontua o jovem diretor “amador”.

 

 

FICHA TÉCNICA

 

“DUAS ÁGUAS”

 

Roteiro e direção

Marco Vinicius Trindade Ropelli

Gabriel Salomão

 

Cinegrafistas

Maria Eduarda Gomes e Marco Vinicius Trindade Ropelli 

 

Elenco

Wilgner Davalo

Maria Eduarda Gomes

Maria Eduarda Barbatto

Marco Vinicius Trindade Ropelli

Fernanda Aragoso

Gabriel Castro

Sarah Iizuka

Matheus Castro

Pedro Wilson

Gabriel Salomão  

Vinícius K. Kito

 

Trilha sonora

“Tristesse” – Chopin

“Lemon Incest” – Serge Gainsbourg

“Dark Lady Instrumental” – Cher

“João e Maria” – Chico Buarque

“Poema” Ney Matogrosso e Cazuza

“Sarabande” - Haendel

“Moonlight Sonata – Beethoven

“Valsa nº 2”- Dmitri Shostakovich

“Marcha Eslava” – Tchaikovsky

“Ela Partiu” – Tim Maia

“Naval Officer” – Jocelyn Pook

“Amada Mia, Amore Mio” – El Passador

“La Decadanse” – Serge Gainsbourg

“Valsa da Primavera” – Chopin

“Iitials BB – Serge Gainsbourg

 

 

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