Tenho acompanhado o enorme frenesi do uso crescente da inteligência artificial na produção de textos. Seria o fim do trabalho dos escritores? A sociedade da desinformação na qual vivemos, com baixo nível de leitura, estaria preparada para a sua disseminação?
Sou da geração que cresceu acompanhada pelo Professor Pardal e seu assistente Lampadinha, um pequeno androide com uma lâmpada no lugar da cabeça. Eles foram criados pela equipe do Walt Disney na década de 1950 para povoar a famosa Patópolis de invenções que iriam transformar o mundo. Uma grande invenção do Professor Pardal era o seu “chapéu pensador”, um artefato em forma de telhado com chaminé habitado por passarinhos, que o ajudava a ter ideias, como se as invenções brotassem da cabeça de cientistas malucos!
Folheando os gibis daquela época, chego a me sentir pueril diante das revoluções tecnológicas da chamada “indústria 4.0”. Robôs colaborativos que podem trabalhar ao lado dos seres humanos sem causar acidentes. Impressoras 4D que imprimem materiais inteligentes que se transformam a partir das condições do ambiente, como umidade, temperatura ou corrente elétrica. Roupas que aumentam ou diminuem de tamanho, objetos compactos que atingem sua forma real quando desembalados! Inovações que ampliam o uso da robótica fazem uso de grande volume de dados (bigdata), inteligência artificial, conectividade e integração. É o aproveitamento de dados em tempo real, a internet das coisas e a computação em nuvem.
Agora é a vez do uso da Inteligência Artificial para atuar no campo da escrita criativa, capaz de produzir automaticamente textos plausíveis e persuasivos. Eu, sinceramente, não sou contrário a nenhuma dessas inovações. Várias ferramentas digitais já estão acessíveis para nos auxiliar na análise dos conteúdos já existentes no gigantesco acervo de bilhões de dados disponíveis, poupando tempo, auxiliando com o “brainstorming” etc. Mas as ferramentas de Inteligência Artificial não escrevem nada realmente original.
Lembre-se de que um discurso que pretende persuadir não precisa levar em conta a verdade, nem mesmo o chamado “conhecimento tácito”, não expresso por palavras, que uma vez codificado e incorporado ao processo de escrita criativa pode se transformar em novo caminho da escrita. Ou seja, uma inovação que valoriza muito mais o não dito, mas também o sentido subjetivo e a interpretação dos silêncios. “Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita” (Clarice Lispector).