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Vamos falar de amor? Esse é um sentimento que vale a pena falar, conversar, discutir, propagar e multiplicar. Em nome do amor e com amor podemos tudo. Com a presença dele, construímos. A família se origina do amor. Estou aqui agora escrevendo este texto, por causa do amor entre meus pais. Eles viveram juntos, até que a morte os separou. Quantos anúncios e renúncias! O amor soma e multiplica, construindo ninhos. 
Atualmente conheci um amor que não se explica, o amor de avó. Sabe que eu desejo para todos, esse amor de avó. Todos, sem exceção, devem um dia experimentá-lo, mesmo que seja por um minuto. Agora mesmo estava aqui, com uma paciente que faz uns 20 anos que a atendo. Ela iniciou aos 17 anos em um momento de muitas turbulências e foi permanecendo em análise até hoje. Fez umas interrupções, mas retorna sempre. 
Penso que a psicanálise e todas as suas vicissitudes entendem bem sobre o amor, acolhimento, empatia e capacidade de escuta. Freud (1920-1923), em seu texto “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, refere-se ao apóstolo Paulo em sua famosa carta aos Coríntios, que louva o amor acima de tudo, “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine”. 
Podemos de fato possuir toda a riqueza, dons espirituais ou muito conhecimento, se faltar amor, esses dons serão inúteis e sem valor. A metáfora do “címbalo que retine” representa a superficialidade e o barulho vazio que podem produzir por ações ou palavras sem a motivação do amor. Há uma frase no “Pequeno Príncipe”, que vem complementar, “Tu não és para mim senão uma pessoa inteiramente igual a cem mil outras pessoas. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...”. 
Se formos pensar sobre o amor na contemporaneidade, como andam as paqueras? Paquera? O que é isso? Era onde tudo começava; pelo olhar. Um simples olhar desdobrava-se em casamento. E para qual direção nossos jovens estão olhando hoje, além das “máquinas”? Todos reclamando que não encontram seus pares! O amor envolve e está implícito um investimento. Precisamos olhar uns aos outros. Olhar é diferente de enxergar. É preciso olhar nos olhos. 
Antigamente a gente fisgava as paqueras pelo olhar e éramos fisgadas pelo olhar deles, também. Olhei para o meu esposo e ele também me fitou. Há 42 que nos “olhamos”. Não se constrói o amor quando só olhamos para o nosso próprio umbigo. Há a existência do outro.

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