Ladrão no Palco (historinha dos bastidores do rádio)

O Espadachim, um cronista a favor do fado e da fada(cuidado, revisão

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 27/06/2020
Horário 05:00

Há um endereço em São Paulo que jamais esquecerei até porque está gravado na minha memória que não chega a ser de elefante: Rua 24 de Maio, 208, 10º andar. Lá, ficava a sede da Rádio Piratininga, a Velha Pira, como diz o Ferreira Martins, o nosso maior locutor de comerciais, com quem trabalhei na Piratininga.

A emissora, fechada pela ditadura em 1974, disputava pau a pau a audiência com as grandes rádios AMs, como, por exemplo, Bandeirantes, Nacional (que virou Globo e fechou recentemente) e Tupi. Tanto isso é verdade verdadeira - e não mentira mentirosa - que a Velha Pira chegou a ocupar o 4º lugar entre as rádios mais ouvidas de São Paulo, segundo o Ibope.

Fundada em 1932 por Alberto Byington Júnior, sogro do ex-governador Paulo Egydio Martins (crônica também é história), com o nome de Rádio Cruzeiro do Sul, a rádio tinha sua sede na Praça da Sé e ali permaneceu até 1952.

Depois, a rádio se instalou na Praça do Patriarca, 26, como me contou o Salomão Esper, que, por falar nisso, merece ter um Templo de Salomão no Morumbi (conversarei sobre a construção do templo com Johnny Saad).

"Eu estacionava meu carro na porta da rádio, o trânsito não era como agora", explicou Salomão, aprovado com outro locutor em um concurso promovido pela então Rádio Cruzeiro do Sul. Salomão lembrou a época glamourosa do rádio de antigamente e logo me recordei do filme A Era do Rádio, do Woody Allen.

Cantores famosos, como Sílvio Caldas e Carlos Galhardo, soltavam o vozeirão no auditório que ficava lotado. "Eram 200 lugares", disse Salomão, acrescentando que a rádio também se dava ao luxo de manter um regional e uma orquestra.

Além disso, por lá também passaram profissionais como Manuel de Nóbrega e um certo $ílvio $antos. A emissora também investia pesado no rádio teatro. Tinha um respeitável elenco de atores e autores de novelas.

Durante a apresentação de um capítulo, uma atriz desmaiou e foi carregada pelo diretor. Salomão viu tudo e quis saber o que tinha acontecido. "Ela não resistiu às emoções do 4º capítulo", explicou o diretor. Não se sabe se a atriz resistiu às emoções do último capítulo.

E, no último capítulo desta crônica aguda, lembro que a Rádio Cruzeiro do Sul, na linha do tempo, passou a ser a Rádio Piratininga e se mudou para a Rua 24 de Maio, indo depois para a Rua Ministro Rocha Azevedo, seu último endereço.

Só mais um dedo de prosa: quem também se destacou na Rádio Cruzeiro do Sul - e depois na Piratininga - foi o jornalista e apresentador Amaury Vieira, um apaixonado por jazz e bossa nova.

Ele apresentava um programa de calouros. Uma vez um personagem surgiu no programa sem ser convidado. Um ladrão caiu do forro direto no palco. Macaco velho, o Amaury não se abalou e foi logo entrevistando o meliante, que logo se mandou e ganhou a rua. Pelo jeito foi "cantar" em outra rádio: a Rádio Patrulha.

 

DROPS

 

Nuvem de gafanhoto e nuvem de areia a caminho. Chamem o Super-Homem, que com um sopro acaba com a brincadeira.

 

Perguntinha: o Brasil está à beira do abismo ou é o abismo que está à beira do Brasil?

 

De grão em grão a galinha enche o papo e o dono da granja enche o bolso.

 

Estamos todos no mesmo disco voador? Depende do comandante da nave.

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