Locais de maior incidência de dengue também são os da Covid-19 em Prudente

Bairros em que houve associação entre as duas doenças ficam nas áreas periféricas da cidade, como zonas leste e norte, aponta pesquisa

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 05/10/2021
Horário 14:42
Foto: Paulo Whitaker/Reuters
Covid-19 e a doença causada pelo Aedes aegypti representam grave problema da saúde pública
Covid-19 e a doença causada pelo Aedes aegypti representam grave problema da saúde pública

Estudo que acaba de ser publicado na revista científica Tropical Medicine and Infectious Diseases (Medicina Tropical e Doenças Infecciosas) constata que os locais de maior incidência da dengue também são os da Covid-19 em algumas regiões urbanas de Presidente Prudente. Conforme o médico infectologista Luiz Euribel Prestes Carneiro, orientador da pesquisa, a coinfecção pelos vírus das duas doenças é um grave problema de saúde pública, gerador de colapso na demanda por leitos hospitalares, especialmente por usuários do SUS (Sistema Único de Saúde).

O pesquisador observou que as regiões com aumento de casos de dengue estão relacionadas a fatores ambientais, como fundo de vale, presença de depósitos de resíduos sólidos irregulares (lixões clandestinos), terrenos baldios e áreas não urbanizadas. As regiões em que houve associação entre dengue e Covid-19 foram os bairros da zona leste: Cambuci, Vila Aurélio, José Rota, Jardim Paraíso, Santa Mônica e Itapura 2; da zona norte: Bela Vista, Santa Elisa, Cohab, São Geraldo e Jardim São Paulo; e o bairro Brasil Novo, na zona norte.

A constatação local é um indicativo de ocorrência da mesma situação em países endêmicos para a dengue, como é o Brasil, que, em 2020, de acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, registrou maiores ocorrências nas regiões sul, Paraná; sudeste, São Paulo; e centro-oeste, Mato Grosso do Sul; Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Prudente tem conexões e é rota de passagem para o Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. A dengue é transmitida pelo Aedes aegypti, encontrado em regiões tropicais e subtropicais, em ambientes urbanos e semiurbanos.

Dificuldade de distinguir

No ano passado, a região oeste paulista, que tem Prudente como a cidade mais populosa, com mais de 230 mil habitantes, apresentou a maior prevalência de dengue no Estado de São Paulo. Parte considerável dos casos aconteceu exatamente quando a pandemia da Covid-19 estava se estabelecendo nessa região. “As infecções de dengue e Covid-19 muitas vezes são difíceis de serem distinguidas, por possuírem sintomas em comum, tais como febre, dor de cabeça, náusea e vômitos, diarreia, cansaço e prostração”, pontua o pesquisador vinculado à Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e que envolveu na pesquisa a Unesp (Universidade Estadual Paulista) e a VEM (Vigilância Epidemiológica Municipal).

“Além disso, as duas doenças podem acontecer ao mesmo tempo como coinfecção, dificultando ainda mais o diagnóstico”, explica. Luiz Euribel conta que o surgimento da pesquisa se deu diante do atendimento como médico infectologista. Quatro dias por semana, ele trabalhava em São Paulo, como intensivista. O médico contraiu a dengue em Prudente e passou para sua família. O mesmo ocorreu com a Covid-19, contraída em São Paulo, para a qual foi assintomático, mas que acabou testando positivo quando já tinha ocorrido a transmissão familiar.

Mapeamento espacial

O interesse por descrever esse caso clínico levou ao estudo da correlação dengue e Covid-19, mediante o mapeamento espacial das duas doenças em Presidente Prudente, tendo como referência os casos de dengue diagnosticados em 2019 e 2020 e de Covid-19 em 2020. “A identificação de aglomerados espaciais simultâneos de dengue e Covid-19 associados a aspectos ambientais e socioeconômicos mostram as áreas vulneráveis da cidade e podem orientar as autoridades de saúde pública em intervenções intensivas para melhorar o diagnóstico, vigilância epidemiológica e a gestão de ambas as doenças”, afirma o infectologista.

No período analisado, em Prudente foram localizadas três regiões onde um grande número de pessoas com dengue também foram infectadas com Covid-19. Há ainda outro fato: o de que duas dessas regiões já haviam apresentado surtos de dengue e aumento de LVC (Leishmaniose Visceral Canina) em anos anteriores. Todas as regiões na periferia da cidade. “No entanto, uma região endêmica para dengue está localizada próxima ao centro, onde não havia associação com aumento de Covid-19. Por outro lado, foram encontradas regiões com grande número de indivíduos infectados por Covid-19, sem o mesmo correspondente à infecção por dengue”, conta.

Problema dobrado

A publicação na revista é feita com o título “Problema dobrado: dengue seguida por infecção de Covid-19 adquirida em duas regiões diferentes: relato de caso de um médico e distribuição espacial dos casos em Presidente Prudente, São Paulo, Brasil” (Double Trouble: Dengue Followed by Covid-19 Infection Acquired in Two Different Regions: A Doctor’s Case Report and Spatial Distribution of Cases in Presidente Prudente, São Paulo, Brazil). O médico Luiz Euribel atua na Faculdade de Medicina da Unoeste e nos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde e Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.

Junto com ele, estiveram envolvidos na pesquisa seus alunos de doutorado em Meio Ambiente e professores da Faculdade de Medicina, a cardiologista Charlene Troiani do Nascimento e o infectologista Rodrigo Sala Ferro; o médico anestesiologista Sérgio Munhoz Pereira; a enfermeira da Vigilância Epidemiológica Municipal, Elaine Aparecida Maldonado Bertacco; o professor da Universidade Federal de Uberlândia, Elivelton da Silva Fonseca; e o professor do departamento de estatística da Unesp, campus de Prudente, Edilson Ferreira Flores.

Foto: Homéro Ferreira - Os envolvidos na pesquisa, Edilson Flores, Elaine Bertacco, Charlene Troiani, Luiz Euribel Prestes Carneiro e Rodrigo Ferro

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