Los Hermanos

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do mel e contra o fel

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 18/10/2020
Horário 05:39

Além do saudoso jornalista Ricardo Boechat, outros hermanos, que é como chamamos os argentinos, também vieram morar no Brasil e foram bem-sucedidos em suas atividades profissionais. 
Se não me engano, o primeiro argentino naturalizado que ficou famoso por aqui foi o cantor Carlos Galhardo, na primeira metade do século passado.
Se o Boechat era menino quando chegou de mala e cuia com a família, incluindo a sua notável mãe, dona Mercedes, Galhardo emigrou mais cedo ainda. Ele era um bebê de colo. Fez um sucesso danado como cantor.
Carlos Galhardo cantava de tudo, samba, marcha, valsa, etc e tal. Aliás, era um dos reis da valsa. "Fascinação", também ótima com Elis Regina e Nat King Cole, "Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda" e "O Destino Desfolhou" são algumas das belas valsas gravadas por Galhardo. Entre as marchas está a antológica "Allah Lá Ô", composta pelo cartunista Nássara e até hoje cantada no carnaval.
Nas artes plásticas, um argentino também se destacou no nosso hoje armado Brasil: Hector Julio Páride Bernabó, mais conhecido como Carybé. Pintor, escultor e jornalista, além de exercer outros ofícios, ele morava em Salvador e era amigo do escritor Jorge Amado. Carybé era ligado ao Candomblé e a Damares, que rebaixei para Darios por causa de tanta besteira que ela fala, não vai gostar de saber disso. 
E um argentino veio dar raquetadas no Brasil, não "batendo" diretamente no país, claro. É que é da sua profissão dar raquetadas. É o tenista Fernando Meligeni, que fala português sem sotaque. Boa praça o Meligeni, como também era boa praça - até boa rua - o cineasta Hector Babenco.
Fez ótimos filmes por aqui e, entre suas películas (películas é bom, hein?), destacam-se "Pixote" e "Carandiru". Babenco mostrava a realidade brasileira nua e crua, nunca vestida e cozida.
Mulheres argentinas também "descobriram" o Brasil. A atriz Alexia Deschamps, com seu jeitão de francesa, brilhou na televisão. Participou de várias novelas na Globo. Anda meio sumida da telinha certamente porque não precisa mais trabalhar.
Quem trabalha bastante é a cozinheira Paola Carosella. Espero um dia - ou uma noite - saborear um prato preparado por essa chef de cuisine. Com seu jeitão de atriz italiana, presumo que Paola Carosella seja a argentina mais conhecida no Brasil no momento.
Quanto ao Boechat, a comoção nacional falou por si e deu uma ideia de como ele ara amado e admirado. Sem dúvida, era o melhor âncora da televisão e do rádio. Vindo da imprensa escrita, ele se adaptou fácil aos novos veículos.
Sua mulher, Veruska, disse que o marido era ateu. Isso não tem a menor importância. O importante é ser ético e ética o Boechat tinha de sobra. Vale lembrar que o Seu Chico (papa Francisco) deixou claro que está melhor com Deus o ateu ético do que o religioso hipócrita e desonesto.
A morte do Boechat foi comemorada nas redes sociais por seguidores imbecis de um "pastor" vigarista. Esses energúmenos disseram que "não se deve mecher (sic) com um ungido por Deus". Ungido por Deus, cara- pálida? Conta aquela do papagaio fanho. 
Eles se referiam a uma escaramuça verbal que o jornalista teve com o tal "pastor", o qual Boechat acusou de "mercador da fé e de tomar dinheiro dos seguidores", acrescentando que conseguiu seu patrimônio com o seu suor e ele, o "pastor", "com o suor dos outros".
Boechat fazia comentários incisivos e bem-humorados na Band e na Rádio Band News. Ele e o José Simão formavam uma dupla pra lá de engraçada. Em uma das tiradas do Simão, ele disse pro Boechat - e de tabela pros ouvintes - que o Tim Maia, lá no céu, estava uma arara (claro que ele falou outra palavra) com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.
Boechat quis saber o motivo. Simão explicou que o Tim Maia exigiu do prefeito a retirada do seu nome da ciclovia que volta e meia desaba. A ciclovia já ruiu duas vezes e presumo que Tim Maia merece ter seu nome em outra obra que até pode balançar, mas sem cair.  
Ricardo Eugênio Boechat, também carioca da gema e da clara por adoção, foi para o lado do mistério aos 66 anos. Viveu pouco e intensamente. Deixou sua marca no mundo, principalmente no jornalismo. Ele jamais será esquecido.
 
DROPS
 

O Brasil está mais confuso do que letra de médico.
 
Na Venezuela, a oposição acha que o presidente está Maduro demais.
 
A carne é fraca, mas o preço é robusto.
 
Quem vê cara vê coração... na tradicional e milenar medicina chinesa.

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