Margens devem continuar apertadas em 2022, aponta boletim CiCarne

Cristiano Machado

COLUNA - Cristiano Machado

Data 30/12/2021
Horário 07:00
Foto: AgriculturaSP/Divulgação 
Seguiremos com aumentos nos preços dos insumos, dos animais de reposição e uma menor disponibilidade de animais
Seguiremos com aumentos nos preços dos insumos, dos animais de reposição e uma menor disponibilidade de animais

Um importante trabalho realizado pela Embrapa é o Boletim CiCarne. Na última e mais recente edição, além da retrospectiva, a análise aponta as perspectivas para 2022, como custos e margens, consumo, ciclo pecuário e o cenário macroeconômico futuro para o setor. 
O ano de 2021 foi marcado por uma continuidade daquilo que se presenciou no ano anterior: houve falta de animais para abastecer o mercado doméstico, por sua vez, enfraquecido em virtude da crise econômica provocada pela pandemia. A principal causa da falta de animais foi o ciclo pecuário e a escassez de chuvas nos principais polos produtores do país.
O patamar elevado de preços da arroba do boi gordo manteve-se no primeiro semestre acima dos R$ 300. Os problemas para os produtores se agravaram em setembro, quando a China (que importou 50% de 1,27 milhão de toneladas exportadas pelo Brasil no período de janeiro a setembro) suspendeu as importações do Brasil depois de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EBB), conhecida como a doença da vaca louca. Isso teve um impacto negativo significativo nas exportações brasileiras de carne bovina, nos últimos meses, (menos 43% no volume e 31% na receita), com alguns produtores operando em níveis bem abaixo da capacidade.
No acumulado do ano, até agora, as exportações brasileiras de carnes bovinas atingiram 1,6 milhão de toneladas, uma queda de 2,4% em relação ao acumulado no mesmo período do ano passado. Em receitas, porém, houve um crescimento no mesmo período de 16% pois o produto está mais caro no mercado global.

Macroeconomia em 2022
As exportações de carne bovina brasileira devem crescer, com a Ásia continuando a ser o principal mercado, embora as exportações de carne bovina ainda tenham sofrido com a suspensão das importações pela China em razão dos casos atípicos de vaca louca, até semana passada. As exportações de carne bovina dos EUA, ganhando acesso à China proporcionarão competição adicional à carne bovina brasileira. Esperamos que a produção de suínos volte a cair em muitos mercados asiáticos, incluindo a China, em 2022, pelos preços descendentes e alto custo com insumos, desestimulando assim a produção. Tal evento criará oportunidades para as exportações brasileiras.
A China deve se manter como o principal parceiro comercial da cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Para o câmbio, as expectativas em função das incertezas globais causadas pela Covid-19 são de preços firmes, com o mercado projetando o dólar em R$ 5,50 ao fim de 2022 e alta volatilidade. O avanço da vacinação e a retomada das economias globais, apesar da inflação mundial projetada, mantêm uma perspectiva positiva para 2022, entretanto, a inflação e o desemprego deverão pressionar o consumo de carne bovina no Brasil, que representa 75% do total da produção total.

Oferta de bezerros
Estamos num período de transição do ciclo pecuário. Entre o aumento do preço da arroba do boi gordo e o aumento da oferta de bezerros. Apesar das quedas consecutivas nos últimos meses, o preço do bezerro continua acima do valor médio nominal observado em 2020, o que levará à retenção de fêmeas, aumentando a produção de bezerros e, consequentemente, a disponibilidade de ofertas para os recriadores no médio prazo. Como o atual ciclo pecuário se iniciou em 2019, os custos de reposição devem começar a baixar somente em 2023, apesar do aumento da oferta destes animais em 2022.

Custos e margens
Seguiremos com aumentos nos preços dos insumos, dos animais de reposição e uma menor disponibilidade de animais. O produtor rural conviverá com o alto custo dos fertilizantes, o que impactará o custo de produção do milho e da soja, afetando o preço da ração para suplementação. Em 2021, houve um aumento de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como milho e soja.
O custo com animais de reposição, em virtude da tendência de alta no ciclo pecuário, também deverá impactar o custo final da terminação. As margens devem continuar apertadas em 2022. Faltarão vacas para abate e abastecimento do mercado interno e as indústrias buscarão bois, que estarão com a demanda aquecida no mercado externo e com a arroba valorizada.

 Dicas do Cicarne para 2022
Alguns fatores precisam ser monitorados, como o surgimento de novas variantes da Covid-19, os gargalos do transporte marítimo, a oferta global de insumos, a pauta ambiental e o comércio internacional. Para o pecuarista, é importante o controle de seus custos de produção.
É importante que o produtor entenda como se dá sua relação de custo de produção com a formação de preços na sua região, bem como o comportamento do ciclo pecuário. Assim, é possível estabelecer estratégias de curto, médio e longo prazo. Utilizar as ferramentas de gestão de risco de preços, permitir a minimização dos impactos da volatilidade de mercado. Por fim, que o produtor saiba explorar as oportunidades que o mercado apresentar. (Do Boletim CiCarne, da Embrapa)

Valter Campanato/Agência Brasil

“São vários aspectos que contribuíram para que o produtor rural produzisse cada vez mais. Temos aí a expectativa e a estimativa de uma safra recorde, não só com aumento de área, mas também com aumento da produção, da produtividade. Essa é uma estimativa boa”.
Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em entrevista ao programa “A Voz do Brasil”. 

Em destaque no Agro & Negócios 

Evento online realizado pela APTA (Agência Paulista de Tecnologias Agropecuárias) Regional, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, reuniu este ano especialistas para debater principais assuntos relacionados à produção de batata-doce, berinjela, pimenta e tomate. A mosca-branca também foi assunto do Seminário, ocorrido neste ano, como noticiou o programa Agro & Negócios, da Rádio 101 FM de Presidente Prudente, do último dia 26. Quem deu os detalhes foi o pesquisador Maurício Nasser (foto), da Apta de Adamantina.

Na média, preços do boi gordo se mantiveram acima de R$ 300 
O cenário observado no setor pecuário nacional ao longo de 2021 foi semelhante ao verificado no ano anterior, com exportações – especialmente à China – em ritmo intenso e oferta restrita de boi gordo para abate. Como resultado, os preços de toda a cadeia renovaram os recordes das respectivas séries. No caso do boi gordo, os preços da arroba paulista se mantiveram acima de R$ 300 em boa parte do ano. 
Quanto às exportações, apesar da manutenção da suspensão dos envios de carne de boi à China por pouco mais de três meses (do início de setembro até meados de dezembro), os embarques totais da proteína em 2021 ainda devem fechar o ano em volumes elevados. (Fonte: Cepea)

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