Maria Flávia, a bailarina da vida. O nome ecoa como um convite à graça, à leveza de uma dança que transcende o palco e se materializa em cada passo, em cada respiro. Lembro-me dela, ainda adolescente, no palco do Teatro César Cava, dançando com o bailarino Nélio. Foi um espetáculo que me inspirou versos, uma melodia que ainda carrego na memória: "Maria, que dança e encanta, tem um jeito sensual, seu corpo balança e espanta, tudo aquilo que é banal. Me faz lembrar um tempo bom esquecido, ao vê-la dançar, sinto a alegria voltar...".
Maria Flávia, filha da minha querida amiga Cristina Miranda e do saudoso Ricardo Bernardes – um homem que partiu cedo demais, mas que certamente a acompanha em cada movimento. Cristina, sua mãe, era a rainha das pistas, a estrela dos bailes na Apea e no Tênis Clube, uma passista inesquecível da Escola de Samba Malacos do Tênis. Não há dúvidas de onde Maria tirou o seu dom, a sua paixão pelo ritmo, pela entrega que só a dança pode proporcionar.
O balé clássico, com sua disciplina e beleza etérea, era o grande sonho de Maria. Um palco de pontas, giros e elevações, onde a gravidade se curva à vontade do corpo. Mas a vida, com sua coreografia inesperada, a levou para outros palcos, talvez menos iluminados por holofotes, mas igualmente desafiadores.
E foi nesses palcos menos previsíveis que Maria Flávia demonstrou sua verdadeira arte. Quando as desilusões tentaram roubar seu brilho, quando a tristeza ameaçou firmar seus pés no chão, Maria não se curvou. Ela enfrentou os obstáculos como uma bailarina que domina cada passo, cada plié, cada pirouette da existência.
Cada desilusão, para Maria, era como um desafio no palco. Em vez de ceder, ela tomava fôlego, concentrava sua força interior e executava um Ballon perfeito, aquele salto em que a bailarina parece flutuar no ar, desafiando a gravidade. Com leveza e precisão, ela pairava acima da dificuldade, observando-a de uma perspectiva elevada, e descia com os dois pés firmes no chão, quebrando os dentes de chumbo da solidão. Cada jeté era um avanço, cada arabesque uma expressão de sua força, e cada fouetté um giro triunfante sobre as adversidades que tentavam pará-la.
Maria se casou, e sua dança, antes dedicada aos holofotes, se transformou. Não perdeu a sensualidade, a graça ou o poder de encantar, mas agora sua coreografia é para o dia a dia, para a família que construiu, para os laços que se tornaram o seu novo palco. Sua dança se tornou a arte de equilibrar os desafios da vida adulta com a doçura de uma mãe, a cumplicidade de uma esposa, a solidez de uma amiga. Ela dança com o vento, com a alegria, com a nostalgia, e ainda assim, em cada movimento, em cada gesto, a essência da bailarina permanece. Maria Flávia não dança para aplausos, mas para a vida, e em sua dança, a alegria de um tempo bom jamais esquecido continua a nos guiar. Vamos nessa.
"Maria que dança e encanta tem um jeito sensual
Seu corpo balança e espanta tudo aquilo que é banal
Me faz lembrar um tempo bom e esquecer a dor
Ao vê-la dançar, sinto a alegria voltar
A luz que vem do céu ilumina os seus passos
Seu corpo flutuando livre no espaço
A esperança perdida renasce na dança com Maria
O brilho no olhar
O amor à sua dança
O sorriso encantado
O rosto de criança
Os sonhos sonhados, neste palco iluminado dança Maria…
Dança Maria… me faz sonhar…"