Maternagem coletiva  

Estamos todos vivendo e experienciando um momento de muita tristeza, angústia e desespero com a tragédia no Rio Grande do Sul. Até mesmo distantes, sob o ponto de vista geográfico, todos estamos navegando no mesmo dilúvio. Muito difícil, ver nossos irmãos desalojados, descamisados em cima do telhado de sua agasalhada casa, outros sem telhado, pois a casa boia, em direção ao nada, levando tudo adquirido a “duras penas”, durante anos e com muito suor. A dor alheia também é nossa. Impossível não se sensibilizar com tamanha dor. Como William Blake, poeta e pintor (1757-1827) em seu poema, “A dor do outro”, traduz a minha, a sua e a nossa dor, nesse momento.
“Posso eu ver a dor de alguém, sem sentir tal dor também? Ou no outro ver desgosto, sem lhe consolar o rosto? Posso o pranto ver cair, sem parte da dor sentir? Pai que o filho vê chorar não se há - de amargurar? Pode a mãe estar em sossego e o bebê gritar de medo? Não, não! Pode isso lá ser! Nunca, nunca pode ser! Pode ele que a todos sorri, ouvir da carriça pequena, das aves mais indefesas, ou das crianças, tristezas. Sem se sentar junto ao ninho com pena do passarinho? Sem juntar, ali ao pé, O seu choro ao do bebê? Sem secar o nosso pranto, noite e dia sem quebranto? Não, não! Pode isso lá ser! Nunca, nunca pode ser! Ele que dá aventurança, e se faz uma criança, faz-se um homem sofredor e sente também a dor. Cada um dos vossos ais, ao criador entregais. Nem há lágrima, decerto, que o não tenha por perto. Ele dá-nos o alento, que destrói o sofrimento, até ver o mal passado, sente dó a nosso lado”. 
Domingo próximo, será o Dia das Mães, e sem dúvidas, há no ar uma maternagem coletiva: homens e mulheres arregaçam as suas mangas e se unem com um único objetivo: amenizar, suavizar, dar de comida, dar guarida, vestir, calçar, dar água, dar um canto, ninar e calor humano ao povo do Rio Grande do Sul. Nos “quatro cantos” da Terra redonda, nunca houve tantas mobilizações. Somos uma unidade, nesse mundão, somos todos iguais. Feliz Dia das Mães para todos que, de alguma forma, expressam, exercem, praticam, dedicam e irradiam o amor no ato de acolher, no cuidado, no abraço e nos afetivos laços.  
 

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