No Dia Internacional da Mulher, quero homenagear todas as mulheres em uma única, chamada Melanie Klein. Ousada, investigativa, curiosa, amorosa e criativa, interessou-se, alavancando como precursora da análise de criança, utilizando-se da prática e método psicanalítico. Melanie Klein travou contato com a psicanálise aos 32 anos de idade, quando estava em Budapeste, em 1914. Leu o pequeno livro de Freud sobre os sonhos, “Uber den Traum”. Isso deu início ao maior interesse de sua vida - a psicanálise.
Mais ou menos na mesma época, começou a sua própria análise com Ferenczi. Acredita-se que deu este passo por motivos terapêuticos, mas a psicanálise captura sua imaginação desde o início. Ela satisfazia sua enorme curiosidade intelectual, o interesse nas pessoas que sempre foi uma de suas características e o seu desejo de trabalhar com os outros e para os outros (sua intenção original era estudar Medicina).
Melanie Klein apresentou seu primeiro artigo para a Sociedade Psicanalítica Húngara, em 1919, marcando o início de uma produção criativa que continuou até sua morte, em 1960, e que revolucionaria a teoria e a prática psicanalítica. Ela iniciou seu trabalho psicanalítico junto às crianças. Ela foi pioneira na análise de crianças. Desenvolveu métodos para analisá-las, até as bem pequenas, sem se afastar dos princípios básicos da técnica psicanalítica.
Como o modo de expressão natural das crianças é a brincadeira, ela sempre lhes oferecia pequenos brinquedos e considerava os seus jogos uma expressão simbólica de sua vida interior, comparável às associações livres dos adultos. Interpretava sua brincadeira e seu comportamento juntamente com a sua comunicação verbal. Ao contrário de outros especialistas da época, adotou desde o início rigorosa atitude psicanalítica. Além disso, desde o princípio sempre interpretou tudo aquilo que a criança apresentava, quer seus sentimentos fossem positivos ou negativos.
Acreditava-se na época que as crianças não podiam desenvolver transferência para o analista da mesma maneira que os adultos, pois ainda estavam presas a seus objetos originais: mãe e o pai. Klein descobriu que as crianças rapidamente estabeleciam transferência, tanto positiva quanto negativa. Descobriu que, desde que se preserve a atitude e o ambiente psicanalíticos, as relações de transferência das crianças não são muito diferentes daquelas dos adultos. Ela acreditava que a criança estava sujeita a ansiedades persecutórias, provocadas pela presença de figuras internas más, e ansiedades originárias da culpa e do medo da perda.
Sempre enfatizara a importância do primeiro ano de vida para o desenvolvimento posterior. Suas descobertas sobre as camadas primitivas da mente, as ansiedades psicóticas e as defesas que as dominavam abriram o caminho para a nova compreensão da doença mental grave. Ela realmente foi genial e ousada, deixando um legado considerado como um tesouro. Ofereço um fragmento de um poema de Jorge Lima, chamado “Poema de Qualquer Virgem”: “As gerações da virgem estão tatuadas no ventre escorreito, porque a virgem representa tudo o que há de vir. Há arco-íris tatuados nas mãos, há Babéis tatuadas nos braços. A virgem tem o corpo tatuado por Deus, porque é a semente do mundo que há de vir. Não há um milímetro do corpo, sem desenho e sem plantas futuras. Não há um poro sem tatuagem: por isso a virgem é tão bela...”.