Qual a criança que não tem medo diante de alguma situação incomum de seu cotidiano? Inventa - Desinventa narra a história de Teodoro, o menino medroso da história que tem uma irmã, Iara, e um amigo, Raimundo! É às 19h, de hoje, no Teatro Paulo Roberto Lisboa, no Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente. Os ingressos custam R$ 15 (criança), R$ 30 (adulto).
De acordo com o diretor da Companhia Mênades & Sátiros, o texto aborda o universo de três crianças, sendo que um deles, ao acordar no meio da noite para tomar água depara-se com um sentimento que o paralisa diante da sede: “o medo”. O texto de Cláudia Vasconcelos recria um universo infantil típico e facilmente reconhecível. Trata-se de um universo imaginário que se avizinha ao da literatura mais conhecida e os personagens são materializados em cena como fruto da imaginação do menino herói: o monstro da meia noite, o ladrão, a bruxa, o saci, o fantasma, entre outros. Se é pela imaginação que se criam medos, é pela imaginação que podemos descria-los, superá-los ou transformá-los. Brincar neste processo pode ser uma libertação. O medo é um grande sofrimento, a criatividade é um grande antídoto.
Segundo ele, desde a tenra infância somos envolvidos por narrativas de medo. O medo se faz presente na produção cultural da criança em diversas manifestações, desde as canções de ninar, a ampla literatura infantil e as mídias atuais. Em todos esses manifestos, o medo aparece como elemento constitutivo do psiquismo infantil, o qual acontece paulatinamente até que o indivíduo tenha seus sentimentos e emoções estabilizados.
“Há medos que são comuns a todas as crianças e operar um único caminho para disseminá-lo pode ser ineficaz, principalmente quando a criança não se sente amparada ou preparada para tal. No espetáculo ‘Inventa-Desinventa’, o tema é abordado de maneira lúdica, em contraponto com a era da imagem virtual. Propomos um encontro com a criança em um tempo real e revigorado. Uma troca mediada pela experiência teatral, pelo jogo e pela celebração”, expõe Denilson.
Reflexão do medo
Na obra de Cláudia Vasconcelos, cabe ressaltar que os conflitos dos personagens diante do medo, ora apenas manifestados por Teodoro e depois também pela sua irmã Iara, são, ao longo da fábula, desmistificados pela ideia de desinventar o medo produzido pela imaginação. O herói é estimulado a enfrentar seus medos e angústias e a desinventá-los pela simplicidade das situações em si posicionando-se diante dos dilemas e enfrentando-os de forma realista. O espetáculo não propõe psicologizar o sentimento do medo, mas procurar refletir sobre ele e suas possíveis consequências, quando é utilizado pelos adultos para dele obter uma infinidade de comportamentos socialmente desejáveis.
“Quando dizemos às crianças que elas precisam se comportar de forma desejável sob pena de algum vir puxar-lhe o pé durante a noite, provavelmente estamos estimulando um comportamento adocicado na criança naquele momento. No entanto, estamos contribuindo para um adulto inseguro, que não fará o certo ou o que deve ser feito porque compreende, mas sim porque tem medo. O medo nos mantém vivos, mas o excesso é o que pode atrapalhar”, destaca o diretor.
Fundamentos e motivações
Entre os medos que aterrorizam o menino Teodoro, podemos citar alguns de natureza mais sobrenatural, que habitam o campo onírico do realismo fantástico, como monstros e sacis e outros apoiados em situações supostamente mais objetivas, como o medo de ladrões. Talvez os medos do segundo tipo sejam os mais difíceis de vencer, justamente porque repousam sobre uma base de aparente sensatez. Em um mundo com grandes desigualdades econômicas e sociais, convulsionado por manifestações de violência, o medo de ser roubado pode parecer bastante objetivo, já que vivemos numa realidade na qual assaltos ocorrem todos os dias.
“O importante é sabermos distinguir os fundamentos e as motivações do medo real ou do medo imaginário, tarefa difícil, pois requer bom senso e delicadeza. É necessário estarmos atentos e levarmos a sério a angústia de quem teme, sem a qual não é possível observar a realidade e preparar-se para a defesa nos casos em que a mesma for necessária”, acentua Denilson.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Cláudia Vasconcelos
Direção: Denilson Biguete
Cenografia: Rogério Quintanilha e Thiago Cardoso
Figurinos: Adbailson Cuba
Trilha Sonora: Elora Carolina, Everton Genari e Diego Villas Bôas
Iluminação: Celso Aguiar
Fotografias: Marcel Sachetti
Adereços: Thiago Cardoso
Produção: Cida Camargo | Olho Nu Promoções e Eventos Ltda
Elenco: Elora Carolina, Fernanda Batista, Marcus Andrade e Thiago Cardoso