Menos glitter, mamãe!

OPINIÃO - José Renato Nalini

Data 27/10/2023
Horário 04:30

Uma de nossas maiores vulnerabilidades é o mar. Este Brasil com declarados 8 mil quilômetros de costa, não tem sabido preservar as águas marinhas. O plástico toma conta de todas as praias. Chega ao mar, infelizmente, depois de percorrer rios e todos os igarapés da Amazônia. Já se encontrou microplástico até no coração humano. Estamos nos matando por ignorância e por toda espécie de abuso antiecológico.
Mas algo que poderia parecer ingênuo, até de certa forma romântico, o uso do glitter, novo apelido que se deu para a purpurina, também é perigoso para a saúde dos mares.
O glitter é aquele brilhinho que as mamães colocam nas crianças para brincarem no carnaval ou no Halloween. Também fantasias adultas e maquiagem se servem desse produto. Mas seu brilho é falso. 
A substância utilizada em sua fabricação envenena organismos que constituem a base de ecossistemas aquáticos, como as cianobactérias. Estas têm papel fundamental para os ciclos biogeoquímicos da água e do solo e interferem na alimentação de outros organismos.
Um estudo da USP (Universidade de São Paulo), publicado na revista “Aquatic Toxicology”, mostrou a presença de concentração de partículas de purpurina não degradáveis em duas linhagens de cianobactérias. As doses crescentes de glitter aumentam o biovolume das células de cianobactérias, ocasionando estresse que prejudica a fotossíntese. 
A concentração ambiental de glitter influencia negativamente organismos suscetíveis dos ecossistemas aquáticos. Tudo isso pode envenenar ainda mais a natureza e abreviar a permanência da vida sobre este planeta, a cada dia mais ameaçado. 
É um estudo científico sério, resultado de pesquisas muito apuradas, algo que não é muito comum no Brasil. É de se lamentar que tais relatórios não cheguem ao comum das pessoas. Às mamães que pretendem deixar seus filhos mais “brilhantes” e não economizam no uso de algo aparentemente inofensivo: o glitter, a purpurina. Cujo efeito, a longo prazo, é tornar ainda mais inóspito o ambiente acolhedor, que nos abrigou durante milênios, porém que estamos destruindo a uma velocidade incrível. 


 

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