Meu filho não gosta de ler

OPINIÃO - Fernando Teixeira Luiz

Data 16/05/2019
Horário 04:29

Primeiro vamos aos sintomas, causas e diagnóstico. O debate acerca do processo de formação de leitores não é novo, motivando pais e educadores em busca de alternativas e soluções para crianças e jovens que rejeitam livros e revistas. Nos últimos anos, as universidades têm se empenhado exaustivamente em pensar em estratégias para aproximar grandes textos de alunos da educação infantil, dos ensinos fundamental e médio. Em meio a tantas iniciativas, vale insistir em um elemento primordial quando está em discussão a formação de leitores na infância ou na adolescência: a qualidade do livro. Uma boa história - revestida de imprevisibilidade, personagens bem construídas e uma proposta irreverente - pode seduzir os jovens, especialmente aqueles cuja intimidade com a literatura ainda não se consolidou.

Agora, vamos à prevenção e às formas de tratamento. Não podemos esquecer que nosso debate envolve dois públicos distintos: a criança e o adolescente. Para o primeiro grupo, eu recomendaria narrativas curtas, como contos de fadas, lendas, mitos e fábulas. Para os que ainda não foram alfabetizados, a ilustração e o livro de imagem podem ser instrumentos bastante eficazes. Pelo fato de a história ser conduzida por desenhos coloridos, a criança não precisa de um adulto para mediar as nuances do enredo. Interagindo diretamente com as imagens veiculadas, consegue compreender os conflitos vivenciados pelas personagens. Indicação de livros? Flicts (Ziraldo), Procura-se lobo (Ana Maria Machado), Lampião e Lancelote (Fernando Vilela) e, principalmente, A bruxinha atrapalhada (Eva Furnari).

Quando é o adolescente que está em evidência, convém pensar em outros títulos para incentivar o hábito de leitura. Narrativas mais extensas, em que o fantástico ainda predomine, podem constituir um filão a ainda ser explorado. Sabemos que o cinema ganha espaço como um grande aliado. Adaptações de emblemáticas obras da literatura juvenil são capazes de envolver os leitores a ponto de conduzi-los às prateleiras das bibliotecas em busca do texto que originou o filme. Os volumes de As crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, ecoam como consideráveis exemplos, uma vez que as grandes telas geraram interesse de multidões pela arrebatadora saga de Lúcia e do leão Aslam. Outros exemplos aqui igualmente receberiam destaque, como O senhor dos Anéis, de Tolkien, Alice no país das maravilhas, de Carroll e, dependendo do leitor, até o eletrizante Drácula, de Bram Stoker.

Finalizando a consulta... Importante ressaltar: insistir na formação de leitores é ainda um dos grandes desafios da escola e da família. Sabemos que o ato de ler requer dedicação, atenção, esforço, seriedade. E que a escolha do livro adequado pode ainda incorporar um quarto elemento aos já citados: o prazer. Pensar em crianças com intimidade maior com livros é também pensar em um país melhor, consciente, tolerante, especialmente em um contexto em que a maior parte dos jovens (e até adultos!) demonstra desconhecer o próprio passado histórico. Afinal, como diria o grande Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.

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