Mulheres lideram flagrantes ao tentar burlar sistema penitenciário

De acordo com a pasta, familiares e companheiras de sentenciados estão entre as que mais são flagradas com entorpecentes e aparelhos celulares nas portas de unidades prisionais

REGIÃO - ROBERTO KAWASAKI

Data 10/09/2019
Horário 04:03

Esposas, namoradas, mães, avós e filhas de sentenciados. Estas estão entre os visitantes que mais tentam burlar o sistema prisional, na tentativa de entrar nas penitenciárias com aparelhos celulares e entorpecentes. A SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) não possui os números referentes aos visitantes flagrados com ilícitos na região de Presidente Prudente, no entanto, afirma que a maior parte deles é do sexo feminino. Mesmo sabendo que correm o risco de serem barradas, abusam da criatividade e acabam encontrando maneiras diferentes para esconder os ilícitos, principalmente as drogas que chegam a ficar camufladas até mesmo em meio aos alimentos.

Para o psicólogo Arnon Francisco de Melo, geralmente, a pessoa que se submete a isso tem comportamento com probabilidade a delinquir, e é preciso levar em conta o afeto que ela possui pelo sentenciado. “Ela vai tentar levar os objetos mesmo sabendo que pode ser presa, pois sabe dos riscos”, afirma. Segundo Arnon, o desamparo é um dos fatores que influenciam para que a mulher pratique a ação, mas salienta que isso não pode ser generalizado. “Existem mães e esposas que não aderem a isso, porque vai depender muito do meio em que vive, do aprendizado e do que foi vivenciado no decorrer da vida”, considera.

Arnon explica que a ação das mulheres seria reflexo “do próprio sistema prisional”. “Se fosse reformador de comportamento, talvez a maior parte dos presos não necessariamente se submeteria a certas coisas. Mas, os presídios estão praticamente tomados pelas organizações criminosas, querendo ou não, os sentenciados precisam obedecer aos comandos e acabam levando os familiares para que alimentem a entrada de objetos”, afirma. Para o advogado criminalista, Matheus da Silva Sanches, em muitas das vezes os detentos são coagidos a pedirem entorpecentes, e fazem contatos com as mulheres. “É uma forma de agradar ao preso, ou para se proteger por conta da submissão com o companheiro”, afirma.

Crime organizado

Há quase duas décadas, a região de Presidente Prudente é lembrada por manter presos membros de facções do crime organizado. Apesar de recentes transferências, ainda existe uma grande concentração de criminosos participantes dos grupos. Desta forma, uma das maneiras de continuarem chefiando o crime é levando os objetos ilícitos para dentro dos presídios. “As ordens saem da unidade prisional. Lá dentro existem muitos viciados, e por conta disso a droga tem um valor muito maior que nas ruas. Isso motiva as pessoas a levarem os entorpecentes de fora para dentro das unidades, bem como os celulares”, afirma o advogado.

Desta forma, utilizam as mulheres próximas aos detentos para realizar o serviço. “É grave! Temos uma unidade prisional da qual se exige que não pode passar nada de ilícito, mas às vezes passa. Podemos interpretar como uma suposta deficiência no sistema. Todos sabem das consequências disso e continuam passando”. 

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