Museu de Arqueologia é inaugurado na Unesp de PP

Espaço que foi lançado ontem tem por objetivo mostrar para a comunidade índios que habitaram a região no período pré-colonial

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 06/05/2016
Horário 08:36
As boas vindas são dadas literalmente, logo na entrada do Museu de Arqueologia Regional "José Luiz de Morais", da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, que foi inaugurado na tarde de ontem. Como um convite a uma viagem histórica, duas esculturas representando índias, presentes da artista plástica mato-grossense, Araci Marques, ao espaço. Na inauguração estiveram presentes discentes, docentes, o reitor da unidade, professor Julio Cezar Durigan, a curadora do museu, professora Neide Barroca Faccio, do departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, da FCT (Faculdade de Ciências e Tecnologia), entre outros convidados importantes como Olavo Santille Ekman Simões, 59 anos, proprietário da Fazenda Guarani, sítio arqueológico da região. O espaço que é aberto ao público e aos pesquisadores da área é um presente para a cidade e região.

Jornal O Imparcial Alunos, docentes entre outros convidados participaram da inauguração

De acordo com a curadora, o museu tem por objetivo mostrar para a comunidade a história dos índios que habitaram a região no período pré-colonial como os Kaingang que nas áreas do Rio do Peixe e Aguapei e os Guaranis, nas áreas do Paranapanema e Paraná. "Temos o foco no oeste paulista, mas também estamos trabalhando o Norte do Estado de São Paulo com os Kaiapó, que tem uma cerâmica diferente dos outros dois povos. Pela cerâmica conseguimos reconhecer qual grupo ocupou qual área e aí então dá para fazer um mapeamento do Estado", expõe a curadora.

E complementa: "A cerâmica dos Guaranis, por exemplo, tem um ombro, um ângulo de parede que divide a parte superior, que é pintada, da inferior. Os Kaingang fazem uma muito fina de 2 a 3 centímetros de espessura, parece um ovo grande e enegrecidas, pois depois de queimada eles ateiam fogo na palha de milho e a fumaça dá um aspecto de verniz na peça. Os Kaiapó fazem cerâmica lisa sem nenhuma decoração e de tamanho grande.

O professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo), José Luiz de Morais, que dá nome a sala de exposição, geógrafo de formação, atualmente consultor na área de meio ambiente, se disse emocionado com tal feito. "Na verdade isso foi uma apropriação da Neide do meu nome . Não sou muito de formalidades, nem aos ritos acadêmicos, sou de Piraju , digamos que me acho um caipira , e ver isso é emocionante. Uma ex-aluna, meus netos acadêmicos demonstrando tanto carinho a minha pessoa. É gratificante!", exclamou o professor.

Para o reitor, Júlio Cézar Durigan este evento pode não significar nada a muitos, porém, para outros o significado vai além. Segundo ele, essa inauguração é um espelho da Unesp, que interage com a comunidade em que está inserida, por meio de todos os seus profissionais, que além de ensinar, aprendem com as necessidades da comunidade. "Ou seja, uma relação rica. Fico contente com a ação dessas pessoas nesse trabalho árduo da História e nesse novo prédio que será um grande centro. É marcante!", acentua o reitor.

 

Materiais

Neide comenta que na sala de exposição estão itens dos grupos de caçadores-coletores (que habitavam o Oeste Paulista sete mil anos Antes do Presente) como a pedra lascada (pontas de flecha, raspadores e furadores), a cerâmica e pedras polidas, dos Guaranis e, dos Kainguangs, apenas a cerâmica.

Segundo a curadora, ela trabalha há 28 anos com os Guaranis e tudo que vê já não é novidade, mas encontraram em um sítio em Junqueirópolis, uma "carinha", um aplique na cerâmica que até então não havia sido encontrado em todo esse tempo. "Precisamos datar a cerâmica desse para saber se foi contato, mas é muito diferente de tudo que já encontramos até hoje", pontua ela.

Conforme a arqueóloga, a região como todo o Estado de São Paulo foi densamente habitada por grupos indígenas, todo lugar que tem fonte de argila e afloramento de pedra a probabilidade de vestígios é grande. Contudo, o problema segundo ela, é que a maior parte das pessoas confundem pedaços de cerâmica indígena quebrada, com telhas, restos de construção, não conseguindo reconhecer. Mas, conforme a professora, com um olhar atento para a beira de rios, lagos e lagoas sempre se pode encontrar material arqueológico porque todo o Estado foi ocupado por população indígena.

"Pesquisas demonstram que os Guaranis ocuparam a região desde 250 Antes do Presente até 1.860 anos, mais ou menos. Os Kaingang atravessando o rio vieram do Paraná por volta do século 17 e por aqui se instalaram. A arqueologia traz uma história que não é contada nos livros didáticos, material disponível para a leitura sobre, porque a História é da classe dominante e os índios não estavam incluídos nela", frisa a estudiosa.

 

Presente à comunidade


A professora lembra que a visitação da exposição é aberta ao público. Basta fazer agendamento prévio. Além disso, no local tem várias oficinas como a de arte rupestre, pintura em pedra São Tomé que a criança pode levar depois o quadrinho para casa; a de cerâmica com a réplica feita em olaria e elas pintam motivos Guaranis; de argila (confecção de potes) de acordo com as técnicas dos Guaranis e a de lascamento em pedra que interessa muito às crianças.

Neide ressalta que o trabalho no laboratório de restauro de vasilhas cerâmicas indígenas pré-históricas é essencial. "Museus de São Paulo estão mandando peças para recuperação e inclusive está vindo um pessoal da Argentina para aprender a técnica. Isso é bom porque peças quebradas não fazem vista em um museu e com elas em seu formato original passam a ter um valor. Esse estudo de técnicas de restauro de vasilhas arqueológicas contribui para a divulgação da cultura de grupos indígenas cuja importância para a formação da cultura brasileira é reconhecida!", exclama.

 

Serviço

AOS INTERESSADOS


O Museu de Arqueologia Regional, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) fica no Núcleo Morumbi, na Rua Cyro Bueno, 40, Jardim Morumbi, em Presidente Prudente.
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