Nada a perder: uma ode matinal à leveza do caos

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 22/08/2025
Horário 06:00

Ah, a manhã! Aqueles gloriosos 23 graus Celsius, com o sol a pino, despudorado, beijando cada canto da nossa amada e (quase sempre) calorosa aldeia. Se dependesse de mim, decretaria essa temperatura como estado permanente de felicidade ambiental. Abrir a janela e sentir a luz da manhã é um convite irrecusável à divagação, especialmente quando ela vem acompanhada de lembranças tão saborosas quanto um licor de cassis em dia de folga.
E por falar em licor de cassis e divagação, a mente me levou direto para um clássico da trapalhada cinematográfica: "Um Convidado Bem Trapalhão". Que filme, meus amigos! Peter Sellers, um gênio da comédia, desfilando sua persona de Hrundi V. Bakshi, um ator indiano tão desastrado que consegue implodir um estúdio de cinema inteiro sem querer. E o prêmio pela proeza? Um convite, por engano, para uma festa na casa do produtor, onde, claro, a ordem natural das coisas cede lugar ao caos mais hilário. Risadas do começo ao fim, gargalhadas que aquecem a alma e nos fazem suspirar por um tempo onde o humor era, digamos, mais... inteligente.
Não pensem que sou um saudosista empedernido, desses que acham que "no meu tempo era melhor". Não, não. É que a barra para o humor, hoje em dia, parece ter despencado do Everest. Onde estão os Peter Sellers da vida? Os Blake Edwards? Os Henry Mancinis, com suas trilhas sonoras que embalam a confusão com uma elegância que chega a ser poética?
E por falar em poesia, enquanto sorvo meu licor de cassis, a trilha sonora do filme ecoa na memória: "Nothing to Lose", na voz doce, suave e inocente de Claudine Longet. Ah, Claudine! Com sua voz que afaga o coração e nos transporta para um universo de leveza e melodia. E a cena? Impagável! Hrundi V. Bakshi, o mestre do descontrole, se contorcendo, fazendo mil caretas, numa luta épica contra a própria bexiga, sob os olhares curiosos (e certamente divertidos) dos outros convidados. Ver aquela cena mentalmente é um convite ao riso solitário, descompromissado, quase um ato de redenção matinal.
É a beleza de ter "nada a perder". Nada a perder em rir sozinho, em reviver cenas que nos arrancam gargalhadas genuínas, em saborear um licor de cassis ao som de uma canção que nos transporta para um universo de leveza e despreocupação. Afinal, a vida, por mais que insista em nos levar a sério, de vez em quando merece ser celebrada com uma boa dose de humor, uma pitada de poesia e a certeza de que, no fundo, a única coisa que realmente importa é a capacidade de encontrar alegria nas pequenas (e mais desastradas) coisas.

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