Meu celular mandou um recado de que estava com o armazenamento cheio. Nenhuma novidade, porque ele faz isso pelo menos umas três vezes por semana e lá vai eu procurar o que apagar.
Só que entre as estatísticas que ele me deu de onde a coisa estava feia, me chamou a atenção que eu tinha armazenado neste aparelho nada menos do que 14.389 fotografias. Fiquei besta. Tudo bem que a maioria estava em nuvem, mas de alguma forma entrava na conta e me foi sugerido pelo próprio celular que eu as apagasse.
Bem, aí é que complicou. Apagar fotografia para mim é um problema sério porque eu sou um profissional e um pesquisador da imagem. Levo muito a sério esta descoberta maravilhosa que até hoje fascina o mundo e, ainda, o faz pensar em muitas atitudes humanas.
Daí que simplesmente dizer para mim: “Apague algumas” é tipo um xingamento.
Mas, fui lá olhar assim mesmo e dito e feito: como eu vou apagar as cenas que vivi nos últimos anos, as alegrias, tristezas, os momentos e conquistas? Porque para mim, uma fotografia não é só uma imagem produzida por aquele aparelhinho ali. Ela é a minha memória, faz parte do que sou, de quem fui e de quem quero ser.
E quando pensei assim, me veio talvez a dura certeza de que talvez para o celular e para quem coloca o algoritmo e a Inteligência Artificial nele, fotografia não deixa de ser apenas um mero artefato barato que a gente faz e desfaz sem pensar em mais nada.
De fato, olhar para este contexto me ajuda a entender a razão de haver tanta imagem produzida e descartada ao mesmo tempo. Estes arquivos digitais, aliás, que são produzidos e apagados aos bilhões todos os dias, vão para onde? Somem de fato? Viram fumaça de bits?
E é no cenário das redes sociais que este desdém da imagem fotográfica se concretiza ainda mais. O amigo e a amiga leitora hão de concordar que ontem viram centenas, talvez milhares de fotografias nas redes sociais, certo? Mas tente me descrever, apenas pela memória, cinco imagens de todas que foram vistas? Com muito custo, talvez apareça uma ou outra da mãe, do pai, do filho, ou uma coisinha engraçada. Ou seja, imagem hoje é mero acessório, como já sabiamente disse Sebastião Salgado certa vez.
Enfim, pedi outra opção à Inteligência Artificial do celular porque nas minhas fotografias eu não mexo assim tão facilmente. Ela então respondeu: “Apague todas as conversas do WhatsApp ou a maioria.”
Pronto, tá de brincadeira, né? Minhas conversinhas, não!