Negócios limpos, dinheiro sujo

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 07/09/2025
Horário 04:30

O que começou como uma investigação pontual sobre combustíveis adulterados se transformou em um amplo raio-x do crime organizado no país. A apuração, conduzida por órgãos de fiscalização e forças policiais, revelou um sofisticado sistema de lavagem de dinheiro que se infiltra no comércio formal, mascarando atividades ilícitas sob a aparência de negócios legítimos.
Empresas abertas já com vultosas quantias em caixa, sem necessidade de crédito bancário ou reinvestimento de lucros, tornam-se veículos perfeitos para dar aparência de legalidade a valores que não nasceram da atividade comercial esperada. Trata-se de um processo de “maquiagem” do faturamento, onde o dinheiro oriundo do crime ganha ares de honestidade, declarado como se tivesse origem em vendas reais.
Esse cenário distorce de maneira brutal a concorrência. No setor de combustíveis, os exemplos são notórios: postos vendendo abaixo do custo, com estrutura impecável, sem aparente dificuldade financeira. Da mesma forma, lojas sofisticadas, mantidas abertas há anos, mas sem movimento compatível, funcionam como fachadas de um dinheiro que já chega pronto para ser legitimado. O empresário comum, que depende de margens apertadas, de volume de vendas e da gestão diária para manter sua atividade, vê-se diante de uma concorrência, no mínimo, desleal.
O resultado é devastador. Enquanto o comerciante honesto luta para equilibrar custos, arcar com impostos e enfrentar as oscilações do mercado, quem atua com dinheiro ilícito não enfrenta os mesmos limites. A economia, em vez de estimular os negócios que geram riqueza real, acaba contaminada por distorções que beneficiam o capital criminoso.
Há também o impacto internacional. O combate a esse tipo de prática interessa diretamente a parceiros comerciais. Os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, têm deixado claro que países omissos na luta contra o crime organizado e o tráfico de drogas podem sofrer retaliações comerciais.
A lição que fica é clara: combater o crime não é apenas interceptar carregamentos ilícitos ou fechar fábricas clandestinas. É atingir o coração financeiro dessas organizações, muitas vezes disfarçado de empresas que parecem irrepreensíveis. Enquanto houver espaço para que o dinheiro sujo se transforme em “honesto”, o empresário verdadeiro continuará em desvantagem e o país seguirá convivendo com uma concorrência desleal que compromete a confiança e o desenvolvimento sustentável da economia.

Publicidade

Veja também