Neste pleito, emoção e razão

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 18/11/2020
Horário 05:27

O primeiro turno das eleições para escolha de 5.570 prefeitos e 57 mil vereadores pode ser considerado o mais insosso e desanimado desses tempos de repúdio à política.
As razões para o clima de indiferença abrigam um conjunto de fatores: o medo da Covid-19; a descrença na política; a crise econômica, que empobrece a população; a deterioração dos serviços sociais, particularmente na área da saúde; e, por fim, a polarização que azeda as relações sociais, aumentando a agressividade entre grupos e rebaixando a expressão dos protagonistas.
É oportuno lembrar que a descrença geral, ao contrário do que se pode concluir de maneira mais apressada, não induz o eleitor a votar em qualquer um. Ao contrário, provoca no cidadão a vontade de mandar todos para o mesmo buraco e, na ausência dessa possibilidade, abre alternativas: deixar de votar, votar em branco ou escolher alguém de perfil mais alinhado às demandas do povo. 
Deixar de votar ou votar em branco, também na contramão do que se pode imaginar, não significa um ato de anemia política. Em outros termos, trata-se de uma decisão que emana da vontade e da concepção do eleitor sobre os candidatos, a par da natural tendência de milhares de pessoas de evitar aglomerações, nesse momento em que a pandemia ameaça formar uma segunda onda.
Em suma, o eleitor avança no caminho da racionalidade, que é um fenômeno condizente com o estágio civilizatório que respeita direitos e deveres e registra índice mais elevado de cidadania. O processo cognitivo pode ser assim explicado: de tanto ver coisa ruim, de tanto ver o copo da corrupção transbordar, a pessoa decide virar a mesa, estapear ou apenar alguns candidatos, principalmente aqueles que só aparecem nas periferias de quatro em quatro anos. O voto, por isso mesmo, carrega uma taxa de emoção, mas não deixa de abrigar igualmente uma porção de lógica, razão, bom-senso. Dedução: o Brasil emotivo acolhe também elevado teor de racionalidade, o que significa participação política mais consciente.
Por último, vale lembrar que a escolha significa a construção da base do edifício político, ou a pista de decolagem dos aviões que subirão em outubro de 2022. Vereadores e prefeitos são cabos eleitorais de todos os participantes da política, ajudando a eleger deputados estaduais, federais, senadores e governadores, e estes, por sua vez, formam os vasos comunicantes que animarão as plateias da eleição presidencial.
O fato é que o pleito deste 15 de novembro, a se completar com o segundo turno no dia 29 próximo, mesmo insosso, é uma pedra fundamental para construção do Brasil de amanhã. O que resultará das eleições afetará a vida de cada um. Daí a importância de tentar enxergar no candidato de hoje um eixo essencial à engrenagem que fará o Brasil avançar ou retroceder.
O voto é um direito. Que deve ser usado como a mais poderosa arma de defesa da cidadania no seio das democracias.

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