No caminho com Maiakovski

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 02/06/2020
Horário 04:15

É abominável, neste momento de pandemia que assola o país, conviver com crise política em escalada crescente, que tem como apetite: interesses particulares. Até em momentos tão dolorosos, a ganância e a ambição não dão trégua e a ausência do Estado no cumprimento de tarefas constitucionais ocorre de forma vergonhosa. É um genocídio moral enquanto aumenta a ocupação geométrica dos cemitérios. Ocorre até a insinuação dos desvairados pela ditadura monárquica, inflar ânimos para derrubar a democracia do Brasil. É trágico, leitor, ver as normas de conduta de ética e moral jogadas no cesto de lixo!

Prezado leitor, aos 3 aninhos rasguei um papel, minha mãe correndo, disse: “Não faça isso, menina!”. Assustei, nunca esqueci a expressão dela. Mais tarde descobri: continha a foto de Getúlio Vargas. Era assim!... Minha família viveu a ditadura de Getúlio Vargas e eu a de 1964 a 1984.

A democracia não é ideal, mas podemos votar, mudar representantes, temos leis que nos protegem, temos a constituição... Na ditadura, seja ela de esquerda (escapamos por pouco) ou de direita, quem está no poder tem o poder absoluto e irreversível. Se na democracia com denúncias, com o medo de os políticos não serem reeleitos, cometem corrupção, gastos exorbitantes, crimes, imagine, leitor, em regime em que “falou matou”. A história do passado e do presente está aí: Venezuela, Alemanha fascista, Rússia de Stalin, Coreia do Norte... Não é isso que o sofrido, honesto e trabalhador povo brasileiro merece. 

Encerro este artigo, leitor, com o poema intitulado “No caminho com Maiakovski”: Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim./E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:/pisam as flores,/matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia, um deles entra sozinho em nossa casa,/rouba-nos a luz e,/conhecendo nosso medo,/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada... Esse poema foi escrito por um braseiro em 1964, após o golpe militar, como uma homenagem talvez a Maiakovski que viveu a ditadura de Stálin e aos 36 anos não resistindo à tortura, suicidou-se.

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