O amor é belo

O amor é lindo. E o amor faz parte do que é belo. Segundo Fiódor Dostoiévski, um grande filosofo, “A beleza salvará o mundo”. Sendo o amor de uma grande beleza, então podemos concluir que o amor salvará o mundo. Só o amor poderá salvar o mundo em que estamos vivendo. O amor, essa palavra tão fácil de falar, tão fácil de sentir, tão fácil de vivenciar, não está sendo fácil de encontrar. O amor, de tão simples virou, na atualidade, algo muito complexo e relativo. As pessoas estão cada vez com mais dificuldade para amar, ligar ou vincular-se.

Uma ameaça no ar vem contagiando e cada vez fica mais difícil à capacidade do encontro. Há encontros sim, mas com desencontros muito presentes na relação. O mundo em que habitamos precisa ser amado e precisamos amar o mundo. Precisamos ter um cuidado especial com todas as pessoas, animais, objetos que nos circundam, exalando respeito, ética, carinho, sensibilidade, assim como a flor exala seu perfume sem pensar na reciprocidade. A flor nos presenteia com seu perfume leve, encantador, e nada pede em troca. O amor fecunda amor se o produto da fecundação, de um encontro fértil entre a espécie, for originado pelo amor.

Aprendemos sobre o amor com um único amor sagrado que se chama mãe. Feliz o mundo se toda mãe amasse seu filho. Mas atualmente e infelizmente, gestações são concretizadas sem a presença de uma “mãe”. Fácil engravidar, difícil tornar-se mãe. O amor só brota do amor. Sem amor instala-se a desgraça, doença, guerra, ódio, agressividade, vícios, patologias, terrorismo, enfim, caos. Mecanismos defensivos vêm tomando conta do ser humano em direção do narcisismo patológico.

As pessoas estão isolando-se dentro de sua própria relação conjugal. Há uma profunda fissura ou fenda impedindo “casamentos” de consumarem-se. Vivem-se juntos o dia a dia, mas não compartilham em intimidade. Não são íntimos entre si. Há estranhamento presente desencadeando fuga, negação, racionalização, etc. “Como fazer para aproximar de minha esposa? Como fazer para ter assunto com meu esposo? Eu não consigo conversar ou me abrir com ele. Há algo que impede de ficar a vontade com ele”, são questionamentos comuns vindo de conjugues. A pergunta mais comum vem da complexidade chamada intimidade.

O que é isso em tempos modernos que estamos vivendo? Acelerados e possuídos pelo estranho que habita a nós mesmos, como podemos ter intimidade com o outro. Como podemos ser íntimos de alguém, se dentro de nós mesmos habita um estranho em que não me aproximo ou desconheço. Precisamos ter intimidade conosco para ser e se deixar ser amado pelo outro. Nós mesmos nos ameaçamos constantemente. Precisamos nos reconciliar com nosso passado para aprender a amar o próximo.

Perguntam: “Como ser intimo com alguém e deixar a emoção transitar entre nossos corações?”. A intimidade aparece quando, no encontro com o outro, o mais original de mim mesmo encontra o mais original de ti mesmo. O encontro do mais original de nós mesmos propicia encontros verdadeiros. Há encontros que o meu mais original de mim mesmo não vai! Por quê? Há encontros que o mais original de mim mesmo não quer aparecer. Não vale a pena. Há encontros que o mais original de mim mesmo fica ouriçado e flui vagando e voando para continentes sem fronteiras. O mais original de mim mesmo se expande com o seu mais original; daí há o nosso encontro. Há a intimidade. Um encontro fértil. Feliz dia dos nAMORados!

Maria Angélica Amorieli Bongiovani é psicóloga clínica, psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Contato: angelicabongiovani@stetnet.com.br

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