O Bebê de Rosemary

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 03/01/2021
Horário 07:00

Anos 70, São Paulo, capital do Estado mais rico do Brasil. Caminhava solitariamente pela famosa e charmosa Avenida Paulista. Me sentia um estranho nesse ninho de concreto. Olhava as pessoas sempre apressadas em busca de um lugar no futuro. Eu procurava algum rosto prudentino. De repente ouvi gritar meu nome: Persioooo. Que surpresa e que belo susto levei. Olhei para todos os lados e vi um rosto num ônibus lotado com metade do corpo pra fora da janela, me acenando na maior felicidade. 
Era o querido amigo, Lê o Garrote (in memoriam). Encontrei um rosto prudentino. O ônibus parou alguns quarteirões à frente. Não sei como o Lê conseguiu sair daquela lotação. Nos abraçamos como amigos- irmãos. Espantamos a solidão da grande metrópole. 
Lê dava aulas de Educação Física na periferia e eu fazia faculdade de Psicologia. Não é nada fácil pra qualquer interiorano se adaptar nessa vida louca de cidade grande. Começamos a andar pela avenida, rindo, lembrando e matando a saudade com os personagens e suas histórias da nossa querida aldeia. Era uma maneira de sentirmos mais aquecidos, mais perto dos corações dos familiares, amigos e amigas que lá deixamos. 
A saudade queimava como o sol.  Nessa caminhada vimos que estava passando o filme “O Bebê de Rosemary, do diretor Roman Polanski. Os atores principais eram Mia Farrow e John Cassavetes. O filme chocou o mundo, pois a sinopse era: um jovem casal, Rosemarey (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes), se muda para um prédio habitado por estranhas pessoas, onde coisas bizarras aconteciam. Quando ela engravida, passa a ter estranhas alucinações e vê o seu marido se envolver com os vizinhos, uma seita diabólica e ocultista, que faz ela duvidar da sua própria sanidade. 
Ela é escolhida para dar a luz ao Filho das Trevas. Imaginem o bafafá que foi na época. As instituições religiosas ficaram horrorizadas e as críticas choveram na horta de Roman Polanski. Esse filme é considerado até os dias de hoje um ícone dos filmes de terror. A imagem espantada no rosto de Rosemary ao ver pela primeira vez o rosto do filho ficou gravado na memória de todos os cinéfilos. Eu e o Lê saímos sentindo um baita medo. Entramos na primeira capela que vimos e fomos pedir a Deus uma proteção contra o Sete Pele ou mais conhecido como Satã. 
Você viu o olhar do bebê no final do filme? Putz, é uma cena que não me sai da cabeça. Lê porque fomos assistir esse filme? Estávamos saindo de uma solidão braba e agora? Começamos a caminhar cabreiro, achando que todo mundo pertencia a tal seita. A imaginação é a melhor máquina de se criar terror. A incerteza está sempre presente na vida de todos nós. Isso que torna tudo mais interessante. Nos apegamos ao nosso bom humor interiorano para despistar esse pavor. Conversarmos e analisamos que o lendário Pazuzu teve muito bom gosto escolhendo a Mia Farrow ou Rosemary para ser a mãe do seu filho, Adrian. Rimos, mas timidamente. Vejam vocês.
 

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