O coronavírus evoluiu, mas a gente nem tanto

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 26/03/2021
Horário 11:31

Vamos ser sinceros: em termos de evolução, o Coronavírus que causa a Covid-19 está dando uma goleada na gente, né? Juntando observação e ciência, dá para dizer que há pouco mais de um ano o vírus tem feito a parte dele: evoluiu naturalmente, atingiu o mundo todo e cresceu no mesmo ritmo que a ciência tentou combatê-lo, desenvolvendo principalmente mutações e cepas diferentes para aumentar a carga de transmissão. E olha que ele nem chegou ainda à fase evolutiva de ser um organismo ultra resistente a vacinas. Bate na madeira! 
Além disso tudo, a Covid-19 tem um lance diferente que é não ser extremamente mortal para todos os indivíduos infectados. Uma reportagem da BBC News Brasil mostra estudos em que cerca de 40 % a 45% dos infectados da Covid-19 nem sequer desenvolvem sintomas, mas transmitem do mesmo jeito. Quer forma mais inteligente de se manter em alta? Se a Covid-19 fosse devastadora como o Ebola, por exemplo, provavelmente o sistema de saúde já teria isolado os casos e resolvido a questão. Do jeito que é, ela se alastra muito porque nem sempre sabemos se quem está ao nosso lado, está contaminado ou não.   
Assustador? Chocante? Nem tanto porque é isso que qualquer ser vivo faz durante a vida, ou seja, evolui. Até mesmo os vírus.
Agora, vamos para nossa parte, dos seres humanos. A gente não entendeu bem essa necessidade de evolução na pandemia, né? Pouco mais de um ano depois, enquanto o vírus seguia a cartilha evolutiva que Darwin decifrou tão bem, o que nós fizemos? Muito pouco. 
Começamos por não acreditar que era uma pandemia séria, colocamos em dúvida uma série de avisos das autoridades. Muitos de nós resolveram colocar a individualidade e o egoísmo à frente da sociedade e começaram a fazer discursos negacionistas ou em nome uma liberdade que não servirá para nada se a pessoa mesmo morrer. Gente que sequer terminou uma faculdade ou o ensino médio e foi para as redes questionar nomes importantes da medicina ou da ciência brasileira e até mundial. Lembra quando alguns entraram na vibe de não tomar vacina porque deram para questionar a eficácia? 
Esse pessoal foi incentivado a não evoluir também por muitas das nossas lideranças políticas, em todas as esferas, que deveriam nos proteger com planos centrais seguros e bem arquitetados, mas decidiram que era hora de fazer política com o vírus ou simplesmente colocar culpa uns nos outros pela ineficiência das gestões. Asseclas de várias classes encamparam a briga política e como se fossem soldados bem fiéis passaram a levar para frente mentiras e práticas que só fizeram o contágio aumentar, como questionar isolamento, uso de máscaras e medidas de restrição e a combater, quem diria, a própria vacina, que é hoje o que vai nos tirar desta condição. 
E ao mesmo tempo em que esse povo briga como adolescentes imaturos da quinta série, deixa de cuidar da família, dos filhos, dos negócios e deles próprios. Quantos já não foram contaminados e na agonia de tentar respirar e não conseguir, não ter uma vaga na UTI perceberam que foram usados como marionetes? Uma coisa é um figurão desses da vida pública pregar que não precisa usar máscara, pegar a Covid e ter uma UTI e um corpo clínico à disposição porque o plano de saúde é bom. Outra, é você se contaminar e ter que resolver a parada na unidade de atendimento do seu bairro. Quantos não morreram sem ao menos perceber a ficha cair?
Enfim, não estamos perdendo só de 7 a 1 para o vírus no campo da evolução. O placar deve ser bem mais alto. 
E vamos conseguir virar? Bem, lá na minha terra o pessoal diz que “o jogo só termina quando acaba”. Eu tenho fé na sensatez humana e na capacidade de evolução que nós já demonstramos ser altíssima. Do contrário nem teríamos descido das árvores para andar sobre duas pernas. 
Mas está mais do que na hora de perceber que nossa performance está feia. Cada vez que a gente se cansa infantilmente da pandemia, o vírus ganha mais um espaço e avança.  
Ficar em casa, se possível, usar máscaras, álcool gel e acreditar na vacina, seja ela qual for, são atitudes muito simples, mas inteligentes o suficiente para salvar muitas vidas, inclusive a sua.

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