O GOLEIRO QUE DEFENDIA PENALTIS SORRINDO

OPINIÃO - Charanga Domingueira

Data 31/07/2017
Horário 13:00

As emissoras que levam som e imagem do nosso futebol ao país divulgaram no domingo que passou, antes dos jogos, a triste notícia. Waldir Perez, grande goleiro do nosso futebol deixara o nosso convívio aos 66 anos depois de um infarto. Waldir não foi campeão do mundo, mas está na lista dos que atingiram tal nível. Foi o titular da seleção na Copa do Mundo de 1982 na Espanha e acompanhei sua carreira do princípio ao fim. Tinha características que o diferenciavam dos seus rivais na posição. Sorridente e brincalhão, fazia desses atributos uma arma contra os cobradores de pênalti que o defrontavam. Como quem não queria nada, apenas um diálogo amigável, quantas vezes o goleiro conseguiu desestabilizar o adversário com suas brincadeiras. Assim foi no Campeonato Brasileiro de 1977, decidido nos penais contra o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte. E assim foi também com Paul Breitner, um dos grandes valores da seleção da Alemanha, e que até então nunca havia perdido uma única cobrança de penal. Inclusive, o que decidiu em favor da seleção germânica a Copa do Mundo de 1974, diante da Holanda de Cruyff. Acompanhei a carreira futebolística de Waldir Peres do princípio ao fim, desde que começou em Garça, onde nasceu, depois na Ponte Preta e principalmente no São Paulo, onde foi o goleiro que mais vezes atuou só perdendo o primeiro lugar para Rogério Ceni. Waldir disputou 617 partidas pelo tricolor, sempre com o uniforme cinzento, de cor neutra, como deveriam fazer todos os goleiros para dificultar a visão do atacante. Depois de deixar o São Paulo, o goleiro atuou ainda por outras equipes, inclusive pelo Corinthians, e encerrou a carreira na Ponte Preta, voltando no final ao local onde a iniciara. Transmiti esse jogo diante da Alemanha, em maio de 1981, quando a seleção brasileira vinha de vitórias retumbantes diante da Inglaterra, em Londres, e da França, em Paris. Era a seleção que disputaria o mundial da Espanha no ano seguinte. O Brasil encerrava a excursão jogando diante da Alemanha, em Stuttgart, e vencia por 2 a 1, quando no finalzinho aconteceu o pênalti que Breitner se colocou para cobrar. Waldir se aproximou, cochichou qualquer coisa no ouvido do alemão, foi para as traves e defendeu. O árbitro mandou voltar já que o goleiro se adiantara. O ritual se repetiu e Waldir defendeu novamente. Quando perguntei o que falara no ouvido de Breitner ele disse que falou mesmo em português, que defenderia quantas vezes o pênalti fosse cobrado. Claro que Breitner não entendeu. Mas, claro também que Waldir Peres defendeu.

 

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